São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997
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Mais bancos estrangeiros

CELSO PINTO

A Argentina abriu seu sistema financeiro aos bancos estrangeiros e, rapidamente, sumiram os grandes bancos argentinos. O Brasil apenas começou a aceitar mais bancos estrangeiros. Até onde pretende chegar?
Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e principal responsável pela maior abertura do mercado brasileiro, acha que, apesar do previsível avanço dos bancos internacionais, deverão sobrar "uns quatro ou cinco" grandes bancos brasileiros de varejo, entre os dez maiores. Bradesco, Itaú e Unibanco, com certeza. Outros candidatos podem surgir de mais fusões.
Foi na gestão de Loyola que o inglês HSBC (Hongkong and Shanghai Banking Corp.) comprou o Bamerindus, o espanhol Santander comprou o Geral do Comércio e acertou a compra do Noroeste. Ambos já garantiram presença na lista dos dez maiores bancos do país.
Outro espanhol, o Bilbao Viscaya, já anunciou sua disposição de entrar com peso no Brasil. O Boston, que já opera aqui, tem sinalizado sua disposição de crescer. Vários outros bancos externos manifestaram interesse no Brasil.
Loyola acha que o BC continuará usando seu poder de barganha ao abrir o mercado. Hoje existe uma tabela interna no BC, elaborada pelo diretor demissionário Alkimar Moura, fixando critérios para o "pedágio" cobrado dos bancos estrangeiros, conforme o tipo de instituição, se já opera ou não no país, o tamanho do investimento, etc. O pedágio já foi cobrado em cinco ou seis casos, num total em torno de US$ 80 milhões, e vale tanto para bancos que queiram entrar no país quanto para bancos externos que já operam aqui e querem expandir sua rede. O Santander pagará US$ 25 milhões pelo Noroeste, sem direito a novas agências.
O dinheiro do pedágio é trocado por ativos podres que o BC teve que absorver, no passado, de bancos em que interveio. Como existem ainda muitos bancos públicos a vender (Banespa, Bemge, Meridional, etc.), a entrada ou expansão dos bancos estrangeiros estará condicionada à compra destes bancos, ou ao pagamento do pedágio.
Muitos banqueiros reclamam que, como bancos gigantescos como o HSBC têm acesso a dinheiro barato ("funding"), sua concorrência ficará insuportável. Loyola acha que a concorrência imediata maior não virá do custo do "funding", mas dos prazos. Os grandes bancos brasileiros, a seu ver, estão conseguindo reduzir o custo de seu "funding", mas os estrangeiros são capazes de captar e oferecer dinheiro a prazo muito mais longo.
Loyola atribui o problema à "esquizofrenia" dos bancos brasileiros. Eles têm feito esforços para alongar seus ativos, mas não seus passivos. Ao contrário, mesmo quando o BC cria opções de captação a prazo mais longo, como os fundos de 60 dias, os próprios bancos são os primeiros a oferecer opções para transformar estes fundos em diários.
A consolidação do sistema financeiro não se limitará aos grandes bancos de varejo: vai passar, também, pelos bancos de investimento independentes. Na época de inflação alta, estes bancos criaram tecnologia para operar no Brasil. Hoje não há mais segredos.
O interesse dos estrangeiros neste segmento é enorme, lembra Loyola. Cinco grandes bancos de investimento americanos vão operar com instituições no Brasil, a Salomon, o Morgan Stanley, a Merrill Lynch, o Bankers Trust e o CSFB. A Goldman Sachs, a Lehman Brothers e o Swiss Bank também querem operar com instituições próprias.
Estes bancos vão usar como arma o acesso a dinheiro barato no mercado internacional de capitais. Loyola imagina uma consolidação neste setor, com fusões, compras ou associações.
Loyola diz que, antes de vender o Bamerindus ao HSBC, o BC consultou, sem sucesso, grandes bancos nacionais. Um deles argumentou: "Você acha que nós vamos criar cobra para morder a gente?", insinuando que o interesse maior era ver o Bamerindus desaparecer.
A cobra deu o bote pelo outro lado. É impressionante ver a rapidez com que os bancos brasileiros, um dos poucos setores que garantiram uma reserva de mercado na Constituição, viram a concorrência externa entrar sob o aplauso ou, no mínimo, a indiferença geral.
Loyola só será assessor especial do governo se isso não conflitar com seu futuro emprego no setor privado. Emprego que ele só definirá depois de merecidas férias.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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