São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 1997
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Partes da solução

FÁBIO FELDMANN

O que levaria as autoridades de Paris, que dispõe de excelente sistema de transporte público, uma frota de veículos modernos e um programa de inspeção e manutenção de veículos em uso (I/M), a considerarem implantar um sistema de restrição de veículos semelhante ao da Operação Rodízio?
Certamente, o reconhecimento de que todas aquelas medidas não são suficientes para evitar episódios críticos de poluição do ar.
Na semana passada, os jornais britânicos informavam que o governo trabalhista estuda implantar um rodízio de veículos em Londres e citam o exemplo de SP.
Esses fatos não fazem parte das considerações do titular da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, quando escreve sobre os resultados da Operação Rodízio (Folha, 20/8) no que diz respeito a seus benéficos efeitos, tanto ambientais (como, por exemplo, a retirada de 330 t/dia de monóxido de carbono do ar) quanto em relação ao trânsito.
Parece que o secretário resolveu apostar suas fichas no I/M, esquecendo que boa parte do problema deriva da construção de milionários túneis, pontes e viadutos (que levam o cidadão de um engarrafamento para outro) e da diminuição do ritmo de construção dos corredores exclusivos de tráfego.
É importante esclarecer que o programa I/M, medida necessária, não constitui uma panacéia, como deixa transparecer o secretário.
Mais valeria que a municipalidade fiscalizasse as emissões de poluentes dos cerca de 13 mil ônibus sob sua concessão e que instalasse equipamentos antipoluição no seu incinerador da Ponte Pequena.
Ao contrário, prefere realizar sua gestão ambiental tentando viabilizar negócios de milhões de dólares, como o I/M, que criou um monopólio eticamente condenável e está sub judice, e a instalação de megaincineradores.
Por isso, a Cetesb só poderia mesmo rescindir seu contrato de auditoria e assistência técnica do I/M com a prefeitura, pois, além de tudo, o secretário, em 18 meses, não tirou o projeto do papel.
Considerando o maior interesse da população, a Cetesb e o Detran se uniram para empreender um I/M estadual, que contempla a emissão de poluentes e a segurança veicular, evitando que o cidadão paulistano se submeta a duas instâncias no licenciamento.
É oportuno registrar que, além disso, o governo do Estado já está ampliando em 50% a linha do metrô e iniciando a tão desejada construção do rodoanel.
Quando se reflete seriamente, há que considerar a afirmação do secretário de que "há mais do que poluição, aviões e urubus entre o céu e a terra da metrópole paulistana". E parece ser algo de podre.

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