São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 1997
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Advogado pedirá prisão de testemunhas

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O advogado Marco Antônio Gomes, assistente de acusação no processo contra José Rainha Jr., disse que pedirá a prisão preventiva, sob acusação de falso testemunho, de testemunhas da defesa que afirmarem ter estado com o líder dos sem-terra em 5 de junho de 89.
"Isso vale para o padre Pedro Paulo, para o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), que eu admiro muito, e para quem for. Quero ver se o governador vai se meter nisso, agora que ele conhece Rainha", afirmou Gomes.
O líder dos sem-terra afirma que estava num acampamento no interior do Ceará em 5 de junho, data das mortes em Pedro Canário (a 270 km de Vitória).
Ele é acusado de co-autoria dos homicídios do fazendeiro José Machado Neto e do PM Sérgio Narciso da Silva. Rainha foi julgado em junho e condenado a 26 anos e seis meses de prisão, mas terá novo julgamento em setembro.
Jereissati está em férias. Seu chefe de gabinete, João Jaime Gomes, disse que as declarações do advogado são absurdas e que o governador não irá ao julgamento, mas enviará uma declaração relatando que se reuniu com Rainha no dia 30 de maio de 1989.
Gomes foi ao Ceará em busca de provas que enfraqueçam o álibi de Rainha. Disse que a defesa se apropriou do livro de registros da paróquia de Madalena, no interior do Ceará, com supostas anotações feitas pelo padre Pedro Paulo Cavalcante sobre o acampamento dos sem-terra.
Gomes viu cópias de páginas do livro publicadas pelos jornais do Ceará e disse que as anotações foram falsificadas.
"As anotações saltam uma linha de um dia para outro, mas, no dia 25, quando se relata a chegada de 200 famílias à fazenda, não há espaço em branco. Alguém escreveu ali recentemente. Eu pediria uma perícia, mas fui à igreja e soube que os advogados de Rainha ficaram com o livro, um documento público", afirmou.
Ele disse ter encontrado testemunhas que desmentem a versão da defesa e que anexará aos autos do processo uma listagem, obtida em delegacias do Pontal, dos mais de 30 inquéritos contra Rainha.
O líder dos sem-terra é acusado de formação de quadrilha, porte de arma e esbulho possessório (invasão com violência ou ameaça).
Aton Fon Filho, advogado de Rainha, disse que o assistente da acusação está tentando intimidar as testemunhas de defesa e que apenas fez cópias do livro de registros da paróquia.
Procurado pela Folha, José Rainha Júnior disse que é acusado em mais de 200 inquéritos em delegacias de todo o país.
"Quem luta pela reforma agrária neste país sempre é perseguido", afirmou o líder dos sem-terra.

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