São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Motorista gaúcho viaja para SC para tirar habilitação

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O Rio Grande do Sul registrou, nos últimos meses, um êxodo inusitado: gaúchos estão transferindo títulos eleitorais para Santa Catarina para conseguir tirar carteira de motorista sem pagar as altas taxas cobradas no Estado.
Desde que o Detran (Departamento de Trânsito) gaúcho foi transformado em autarquia e teve seus serviços terceirizados, esta situação começou a ocorrer.
A transferência do título eleitoral é uma forma de comprovar a residência no Estado e, assim, conseguir tirar a carteira em outro local.
Só na última quinta, uma Kombi e um ônibus fretado saíram dos municípios de Ronda Alta (360 km a noroeste de Porto Alegre) e Itatiba do Sul (409 km a noroeste de Porto Alegre) em direção a Chapecó, cidade próxima à divisa entre os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Nos dois veículos, havia 50 pessoas interessadas em tirar a carteira de motorista por preço mais baixo.
Mais da metade, 1.413, são transferências, em sua maioria de municípios gaúchos próximos, segundo funcionários da 35ª Zona Eleitoral.
Eles dizem ter estranhado o fato de isso ocorrer em ano não-eleitoral e de boa parte acabar desistindo da transferência, utilizando-a apenas para comprovar residência em um determinado momento.
Valores
O valor pago para obter carteira de motorista no Rio Grande do Sul foi quadruplicado a partir de julho, quando houve a terceirização da habilitação.
Antes era R$ 115, incluindo expedição e exames médico, psicotécnico, de legislação e de direção.
Hoje, é R$ 445, incluindo expedição, exames psicotécnico, médico e de direção e aulas teóricas e práticas.
Para quem quiser tirar carteira de carro e moto, o custo pode chegar a R$ 660.
Em Santa Catarina, a carteira fica no máximo em R$ 120. Além disso, as carteiras no Rio Grande do Sul são expedidas por via postal. Para os catarinenses, a entrega ocorre no mesmo dia.
Transferir e licenciar
Não é apenas a aquisição da carteira de habilitação para dirigir que leva o usuário gaúcho -incluindo empresas- a viajar até Santa Catarina e transferir o título eleitoral para comprovar residência. Outras taxas são igualmente mais baixas em Santa Catarina.
A transferência de um Corsa GL 96, pelo atual sistema no Rio Grande do Sul, custa R$ 497,61 -R$ 381 de IPVA, R$ 99,26 de taxa de transferência e R$ 16,39 de taxa de expedição.
Em Santa Catarina, custa R$ 347,46 -R$ 265,48 de IPVA, R$ 63,76 de taxa de transferência e R$ 18,22 de taxa de expedição.
Para o licenciamento de um veículo Chevette ano 84, o custo é de R$ 139,83 no Rio Grande do Sul e R$ 46,77 em Santa Catarina.
Aparência
A assessoria do governador Antônio Britto (PMDB) disse que os valores das taxas praticadas no Rio Grande do Sul existem desde janeiro deste ano.
A exceção são as referentes às aulas teóricas e práticas -que se tornaram obrigatórias para todos desde que o Detran foi tercerizado.
Os custos, segundo a assessoria, aumentaram só na aparência, porque estudos dos técnicos responsáveis pelo novo sistema mostram que a maioria das pessoas fazia pelo menos 12 horas de aulas práticas a um custo de R$ 120.
Os motoristas também pagavam matrícula em auto-escola por R$ 60, alugavam o veículo para exame por R$ 50 e ainda pagavam R$ 70 para intermediários.

Texto Anterior: Associação vende terrenos e desaparece
Próximo Texto: Sindicato sustenta os 'sem-carteira'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.