São Paulo, terça-feira, 2 de setembro de 1997
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Novas idéias para a Cesp

CELSO PINTO

O negócio de geração de energia da Cesp (Centrais Elétricas de São Paulo), vendido por inteiro e não mais desmembrado, pode se transformar na primeira "corporação" brasileira, isto é, uma grande empresa com o controle pulverizado entre muitos pequenos acionistas e com uma gestão profissional.
O presidente da Cesp, Andrea Matarazzo, pediu que o Morgan Stanley, banco de investimentos americano que assessora a modelagem da privatização, estude essas idéias. Vendida como um só negócio, a geração da Cesp vira um gigante de 10 mil megawatts valendo uns R$ 13 bilhões.
A rigor, as duas idéias precisam passar pelo crivo do Morgan, do conselho de privatização do Estado e do governador Mário Covas. Matarazzo acha que vale a discussão.
A Cesp, hoje, está envolvida em geração, distribuição e transmissão. A primeira grande privatização deve ser a da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), distribuidora controlada pela Cesp, cuja venda está marcada para 5 de novembro, e estimada no mercado em algo entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões. O Estado tem 60,7% do controle da CPFL e a receita da privatização irá para a Cesp abater parte de seu passivo de US$ 12 bilhões.
Também está prevista a venda do conjunto das três usinas geradoras do rio Pardo, em dezembro: são apenas 200 megawatts, avaliados em uns US$ 200 milhões. A parte de distribuição da Cesp deve ser desmembrada até dezembro e privatizada até fevereiro.
Restaria o complexo de geração. O modelo original previa a divisão por bacias hidrográficas: Pardo, Paranapanema, Alto Tietê, Tietê, Paraná e Parnaíba. O que fez Matarazzo repensar o modelo é a tendência de outras grandes geradoras não serem divididas, como a mineira Cemig, a paranaense Copel e a federal Furnas. Nesse contexto, faria mais sentido manter a Cesp como uma grande geradora.
Vender por inteiro teria outras vantagens. Aceleraria o processo de privatização. Eliminaria o risco de disputas jurídicas caso houvesse cisão ou criação de subsidiárias para vender a geração da Cesp aos pedaços.
Pulverizar o controle da Cesp seria uma forma de minimizar o risco de dar a um ou dois grandes grupos poder excessivo de mercado. Criar uma "corporation" ao estilo americano, contudo, não é tarefa trivial. Existem inúmeras dúvidas.
A primeira é assegurar a pulverização. Na venda, isso pode ser feito limitando o tamanho dos lotes por comprador, mas, para evitar uma reconcentração de poder posterior, seria preciso criar regras estatutárias. O Dnaee (Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica), por sua vez, exige que alguém seja responsável pelas geradoras, com pelo menos 15% do controle e essa questão teria que ser equacionada.
Outro problema é o do ganho. Vender o controle acionário gera um "prêmio de controle" no preço, ou seja, quem compra está disposto a pagar um extra. A pulverização elimina esse prêmio, portanto, gera menos receita. Se as regras posteriores não impedirem uma reconcentração do controle, contudo, o prêmio de controle acabará aparecendo numa segunda etapa, beneficiando os compradores das ações na primeira etapa.
Há dúvidas, também, sobre a capacidade do mercado de absorver uma venda tão grande. Numa venda pulverizada, o Estado teria que vender a totalidade dos 60% que tem da Cesp, ou mais de US$ 7 bilhões. Seria o equivalente a quatro ou cinco privatizações da Vale.
A grande vantagem, para Matarazzo, seria garantir uma gestão profissional, preocupada com resultados e, portanto, competitiva. Outra vantagem seria democratizar o capital da empresa e, portanto, o processo de privatização.
Tudo isso deve ser debatido até novembro, quando a consultoria deve apresentar o modelo de privatização.
Melhora a exportação
O déficit comercial de US$ 316 milhões em agosto, além de inferior ao esperado, embute outra boa notícia. As exportações, de US$ 5,072 bilhões, representaram uma média de US$ 241 milhões por dia útil, a maior do ano e com um peso maior de manufaturados do que nos meses anteriores. A importação, de US$ 5,388 bilhões, ou US$ 256 milhões por dia útil, é menor que os US$ 263 milhões de julho, mas mais dentro do esperado.

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