São Paulo, terça-feira, 2 de setembro de 1997
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PSDB quer levar discurso social a palanques

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A pouco mais de um ano da eleição de 1998, o PSDB quer mudar o discurso para poder levar bandeiras sociais ao seu palanque eleitoral. O bem-estar social, o combate a privilégios e às injustiças passam a ocupar lugar de destaque junto com a estabilidade econômica.
Foi esso o eixo principal das discussões do encontro das 27 Executivas estaduais do partido, realizado ontem, em São Paulo. Na reunião, o PSDB divulgou documento -"Carta de São Paulo"- pregando seu novo discurso.
"O projeto de sociedade do PSDB busca universalizar o bem-estar social e passa pela necessidade imperiosa de refundar o Estado brasileiro", afirma o documento, aprovado por unanimidade pelos dirigentes tucanos.
"Trata-se, pois, de olhar para além da estabilidade econômica e de prosseguir no combate aos privilégios e às injustiças sociais, gerando oportunidades de trabalho, redistribuindo a renda e transformando qualitativamente a realidade nacional", diz o texto.
O novo discurso tem como objetivo preencher o espaço hoje ocupado por partidos de esquerda. Temas como reforma agrária, emprego e habitação popular serão usados com mais regularidade.
"É um discurso progressista", disse o senador Teotonio Vilela Filho (AL), presidente nacional do PSDB. "Temos que ter um discurso menos inibido e mais assumido", disse, referindo-se à tonalidade social da nova bandeira tucana.
A partir de agora, segundo Vilela, o PSDB "tem que entrar de peito aberto quando discordar das medidas do governo federal". Para ele, a questão da reforma agrária tem hoje um "discurso muito qualitativo" no partido.
"Falamos sempre que assentamos 150 mil famílias por ano. O PSDB tem que aprofundar esse discurso", afirmou. No caso do desemprego, segundo Vilela, a proposta será a de abordar alternativas para criar novos empregos.
Para ele, o partido tem que subir aos "palanques com um discurso mais definido e afinado com a fala do presidente" FHC. "Precisamos criar um rosto para o partido."
Documento
Para Vilela, o PSDB também tem que definir o que é ser um partido social-democrata. O documento tucano repetiu os conceitos de Vilela e de outros tucanos presentes à reunião, como José Aníbal (SP).
"O PSDB entende o Estado como socialmente necessário ou como 'Estado ótimo', em confronto com as idéias de um 'Estado máximo', que tudo rege, ou de um 'Estado mínimo', que esvazia os programas sociais", diz o texto.
"É dever do Estado assegurar as necessidades básicas da população, curvando-se ao espírito de solidariedade coletiva", afirma o texto. O documento diz que FHC é o "condutor das transformações estruturais que o Brasil precisa".
O PSDB também discutiu a adesão de parlamentares que vem recebendo de outros partidos. Ainda esta semana, o partido deve chegar a cem deputados, com as filiações de Aloysio Nunes e Alberto Goldman, ambos do PMDB paulista.
Mas a esquerda do PSDB não vê esse crescimento com bons olhos. O partido elegeu apenas 62 deputados na eleição de 94 -a previsão é superar 110 deputados no próximo mês. Três deputados baianos também estão aderindo.
"O PMDB foi destruído exatamente quando virou um partido-ônibus", disse o ex-deputado Waldir Trigo, da esquerda tucana. "O partido tem que crescer dentro das urnas. Tudo o que vem de fora é assustador", declarou.
Candidatura Covas
Os peessedebistas lançaram a candidatura do governador paulista Mário Covas à reeleição.
No final da reunião, o governador mudou seu discurso reticente sobre a proposta e praticamente admitiu concorrer a um novo mandato. Disse que um embate com o ex-prefeito Paulo Maluf deixa ele "estimulado" a aceitar uma nova disputa pelo governo.

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