São Paulo, quarta-feira, 3 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vantagens brasileiras no Mercosul e na Alca

MARIO GARNERO

O Brasil, potência econômica que, obviamente, é líder do Mercosul (Mercado Comum do Sul) e da América Latina, precisa estar apto a se beneficiar de suas relações, em posição de vanguarda, com todos os blocos comerciais do mundo, como a União Européia ou a atual e polêmica, mas irreversível, Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que deverá se concretizar em 2005. Deve, ainda, explicitar claramente suas aspirações e status, inclusive ao pleitear assento no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
É verdade que precisamos consolidar e fortalecer o nosso Mercosul, economia expressiva que movimenta, de início, US$ 1 trilhão do Brasil e US$ 400 bilhões de Argentina, Uruguai e Paraguai, em um conjunto de aproximadamente 200 milhões de consumidores. A importância do Mercosul é enorme para a inserção do Brasil na economia globalizada, mas precisamos ter também um relacionamento efetivo com a Alca, bloco comercial que virá a movimentar US$ 13 trilhões e terá 750 milhões de consumidores.
O Plano Real conquistou avanços significativos, reconhecidos internacionalmente. Soma vários sucessos, a começar pela já duradoura estabilidade econômica e pelo firme combate à inflação, praga que beneficiou longamente o Estado e uma reduzida parcela de privilegiados. A inflação sempre sacrificou os mais pobres, impedidos do acesso ao consumo e à poupança. Por isso, o presidente Fernando Henrique Cardoso comemora que 13 milhões de brasileiros tenham ultrapassado a fronteira da pobreza.
Sim, a sociedade brasileira ainda tem muito por fazer. Temos de enfrentar, por exemplo, o "custo Brasil", que sustenta estruturas ultrapassadas e deficitárias na Previdência e na administração pública, desviando recursos de outros investimentos básicos. Educação, habitação, saúde e empregos são outros problemas a enfrentar. O Poder Executivo passa a imagem de quem faz sua parte, mas caberá aos nossos parlamentares a decisão de reformar o Brasil para o conjunto maior de sua população.
Na iniciativa privada, dependemos de eficiência e de avanços tecnológicos para competir dentro dos diferentes blocos comerciais. Capacitação profissional e melhores salários também merecem atenção. Temos o déficit de transações correntes, mas, como avalia o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, não há riscos para o Plano Real, em razão da qualidade do capital que está chegando ao Brasil.
O raciocínio animador está na imprensa. A transferência de empresas estatais para a iniciativa privada é um sucesso, no qual tem mais visibilidade a área de telecomunicações, comandada pelo ministro Sérgio Motta. Seu setor, completada a privatização, terá investimentos de até US$ 100 bilhões. Há outros números: apenas em fusões e aquisições de empresas privadas brasileiras, no ano passado, foram movimentados US$ 13 bilhões. No âmbito do Mercosul, estima-se que até o ano 2000 -dentro de apenas três anos, portanto- empresas brasileiras e argentinas realizarão investimentos conjuntos de US$ 2 bilhões.
Investimentos cada vez maiores são exigidos para a montagem de uma infra-estrutura privada brasileira, alinhada a uma competitividade mundial, especialmente em transportes, comunicações, geração de energia elétrica, produção e exploração de petróleo.
Atrair investimentos é o objetivo do nosso Fórum das Américas, ao promover, nos dias 29 e 30 de setembro, a Conferência de Mônaco, levando aos europeus, prioritariamente, as oportunidades existentes no Brasil e sua repercussão no Mercosul. Lá, por exemplo, o ministro Eliseu Padilha, dos Transportes, mostrará o programa de privatização de sua área. Será também uma tribuna para o tema "Mercosul - Uma Realidade Política". Haverá, sim, um momento para a Alca, tema enfocado pelo ex-presidente dos Estados Unidos George Bush. Afinal, a realidade tem demonstrado que não existem mais ilhas infensas à economia global do século 21.

Texto Anterior: Cartão popular; No topo; Mania latina; Juro relativo; Timidez governamental; Em expansão; Gás argentino; Pressão externa; Santo forte; Mala direta; Sorriso real; Limpeza lucrativa; Comendo impostos
Próximo Texto: Depois do México, a Tailândia...
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.