São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
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Chama o português!

MARTA SALOMON

Brasília - O desfecho da história de Jucélia Santos -a desempregada presa por furtar um remédio de R$ 5,80 para a filha Suellen- poderia ter sido outro se as autoridades tivessem sido tão tolerantes com ela quanto têm sido com a indústria farmacêutica.
Não é o caso de culpar o gerente da farmácia ou o delegado que colocou Jucélia atrás das grades. Até agora, passaram despercebidos os personagens que vêm descumprindo decreto baixado por Itamar Franco em meio a uma guerra declarada à indústria farmacêutica.
O decreto, nº 793, publicado no "Diário Oficial da União" de 6 de abril de 1993, determina que toda receita médica contenha o nome genérico do medicamento e não apenas o nome dado pelos laboratórios. Por exemplo: ao lado de Novalgina, o médico deve escrever dipirona.
Lembra o ministro da Saúde da época, Jamil Haddad, que o decreto pretendia baixar o custo dos medicamentos em até 40%. A diferença de preços entre as marcas famosas e o produto genérico paga o lucro dos laboratórios e seus gastos com publicidade, inclusive junto aos médicos.
O decreto movimentou um poderoso lobby, muita contestação. E todo mundo faz vista grossa.
No caso de Jucélia, o médico deveria ter colocado o nome da substância contida no remédio Wyntomilon -a suffametoxazol+primetropim, que, apesar do nome complicado, denomina uma substância simples, integrante da lista de medicamentos básicos distribuídos pelo Ministério da Saúde aos Estados.
E mais: informa o ministério que tal medicamento (com nome diferente da receita dada a Jucélia) não enfrenta nenhum problema de abastecimento na rede de saúde pública para ser oferecido gratuitamente à população.
Vale para o governo brasileiro, que gasta fortunas em publicidade, o alerta das autoridades portuguesas, que mandaram publicar o seguinte anúncio, com a foto de um acidente de trânsito: "Quase todos os dias morre uma princesa em Portugal. Mas o nosso país só chora por Diana". Estava bem debaixo dos nossos narizes.

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