São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
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O grito dos excluídos

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

No dia 7 de setembro ecoará, em centenas de cidades, o "Grito dos Excluídos". A iniciativa une-se à 10ª Romaria dos Trabalhadores que se realiza desde 1987, no Santuário Nacional de Aparecida (SP).
O grito teve sua origem após a "Segunda Semana Social Brasileira", em 1994, que chamou a atenção sobre a exclusão social em nosso país.
A primeira manifestação popular, sob a forma de "grito dos excluídos", deu-se em 1995, e teve por lema "A vida em primeiro lugar", com a finalidade de criar laços de solidariedade e esperança, propondo a colaboração de todos para a distribuição equitativa das riquezas, da renda e acesso ao uso da terra.
No ano seguinte, em 1996, o grito difundiu-se em mais de 300 cidades, com o lema "Trabalho e terra para viver", procurando soluções para o desemprego estrutural e mostrando a necessidade de uma política agrícola e da preservação do meio ambiente.
Para o ano de 1997, o grito "queremos justiça e dignidade", em consonância com a Campanha da Fraternidade, refere-se às injustiças cometidas nas prisões, à violência policial, às falhas do Poder Judiciário e à defesa dos direitos dos presos. Reafirma, também, contra a exclusão social que perdura, a urgência da reforma agrária e da demarcação das terras indígenas.
O grito tem sua expressão mais significativa na presença de milhares de trabalhadores e romeiros em Aparecida. Vem se difundindo pela adesão de numerosas cidades, no empenho de alertar a sociedade sobre o drama dos excluídos, que carecem de trabalho e, portanto, de alimentação, moradia, saúde, educação, lazer e dos bens da cultura.
A escolha do dia 7 de setembro deve-se ao anseio de que o Brasil se comprometa a alcançar sua efetiva independência, com atendimento às necessidades básicas de todos os cidadãos.
Entende-se por que a igreja, desde o início, tenha assumido a responsabilidade dessa iniciativa -à qual outros com razão se associam-, uma vez que a exclusão social opõe-se radicalmente à sociedade solidária e fraterna inspirada no Evangelho. Devem, portanto, as comunidades cristãs sentir-se diretamente convocadas pelo clamor bíblico do pobre e pela palavra do papa João Paulo 2º, ao proclamar o Jubileu do ano 2000, a um exame de consciência, ao recurso à oração, à conversão pessoal e coletiva, sem a qual não será possível cumprir as exigências da ética e da justiça social.
Precisamos, por isso, contribuir a fim de que os direitos sociais, civis e políticos sejam garantidos a todos, superando o modelo econômico que aumenta a concentração de bens nas mãos de poucos.
O grito é, no entanto, em primeiro lugar, para nós mesmos. Temos que ouvir e acolher a voz de todos os que são vítimas da exclusão, por incluí-los em nosso coração e nossa vida. Só assim seremos capazes de lutar "pela justiça e dignidade no campo e na cidade".
A sociedade sem violência e democrática, a pátria livre e independente não nascem por encanto. O Brasil que "a gente quer" é fruto não só do grito que lançamos a todo o país, por mais forte que seja, mas da acolhida sincera que dermos a cada excluído, criança subnutrida, irmão sem terra, sem emprego e assistência médica. Deixemos o grito ecoar dentro de nós.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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