São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Zunzum é fogo

JANIO DE FREITAS

Entre políticos de mais expressão há um zunzum, nos últimos dias, talvez umas duas semanas, ainda não captado com nitidez aqui fora, mas com certeza recheado por dados de pesquisas misteriosas, muito bem guardadas, e por sondagens e conversas não menos misteriosas e muito mais numerosas, todas em encontros e reuniões indevassáveis de um tema só -a eleição presidencial.
Tem tudo a ver com esse zunzum a veloz sucessão de acontecimentos ligados à disputa eleitoral. É o caso da inesperada admissão, por peemedebista do mais submisso governismo, de que os defensores de candidato próprio do PMDB já têm possibilidade de vencer a divergência com os fernandistas. Vai ainda mais longe essa novidade, com a antecipada definição de que não haveria, nesse caso, cisão maior no PMDB. Antecipação que parece atestar o peso dos fatos que quebraram a inflexibilidade dos fernandistas do partido.
Têm tudo a ver com o zunzum a definição de Itamar Franco, de cujo círculo sai a informação de que entrará no PMDB, e a inflexão resoluta que Sarney passou a dar à sua disposição de candidatar-se contra Fernando Henrique pelo PMDB. E, no âmbito ainda do PMDB, tem tudo a ver com o zunzum o recuo do presidente da Câmara, Michel Temer, na sua articulação para amarrar desde já o PMDB, por uma espécie de compromisso dos governadores peemedebistas, com a candidatura de Fernando Henrique.
Tem tanto ou mais a ver com as mesmas causas do zunzum a dedicação integral da semana de Fernando Henrique à sua propaganda, incluindo uma entrevista coletiva cujo propósito era dar pretexto à introdução, um balanço tipicamente eleitoreiro de supostas realizações do governo -a começar das dentaduras postas nas bocas pobres pela ficção paupérrima. Nem um só dia da semana ficou sem eventos autopromocionais de Fernando Henrique. Com um único resultado indiscutível, sob a forma de surpreendente incursão na sinceridade: 'À continuidade é uma obsessão do atual governo". Nunca pensamos outra coisa, mas também não esperávamos confissão tão explícita.
E não há dúvida de que tem tudo a ver com as mesmas causas do zunzum a aprovação preliminar, em comissão do Senado, de mais facilidades para a reeleição de Fernando Henrique. A farsa de peessedebistas dizendo-se surpreendidos e indignados, dado o caráter casuísta e golpista do facilitário, desmorona com a simples referência ao silêncio que eles todos mantiveram sobre a proposta, que não surgiu em cima da hora, e sobre o parecer de Francelino Pereira, que jamais ousaria defini-lo sem obediência expressa ao desejo do presidente, fosse qual fosse. Assegurados os votos para aprovação, os outros peessedebistas foram escalados para exibir a indignação com a indecência.
O zunzum deixa entreouvir a existência de pesquisas feitas no país afora, tanto pelo governo como por grupos governistas ou não, com indicações muito importantes. Há também insinuações sobre encaminhamento de acordos, divisões de áreas, coisas assim. Mas tudo em medida que dá a certeza, apenas, de que onde há zunzum há fogo.
$$$$$$$$$
Muito interessante a intenção do governo de reduzir a modesta lucratividade da caderneta de poupança. Há dois motivos lógicos para isso: sem a redução, a poupança acabaria recuperando as perdas tidas por anos, inclusive as perdas já no Plano Real; além disso, a caderneta é a poupança popular e, sendo assim, o governo não poderia deixá-la intocada, como uma exceção.
Dois? Não, são três motivos lógicos. Para onde pode correr grande parte da poupança prejudicada, senão para os fundos de investimento dos bancos? Mais um favorzinho aos bancos, de apenas outros bilhões mais.
Claro, nada disso tem a ver com gente levando dinheiro grosso e com dinheiro grosso para campanha eleitoral: o governo é sério, e se faz alguma coisa por bancos e banqueiros, fraudadores ou não, é só pelo bem de todos e felicidade geral da nação.

Texto Anterior: O teste dos três honrados
Próximo Texto: 'Excluídos' farão atos em 800 cidades do país hoje
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.