São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desburocratização aumentaria denúncia

OTÁVIO CABRAL; ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A desburocratização da polícia aumentaria a notificação de crimes pelas vítimas e faria com que as estatísticas sobre criminalidade se aproximassem da realidade.
Essa é a opinião de vários especialistas em segurança pública consultados pela Folha.
A principal medida que ajudaria a desburocratizar a polícia seria uma maior interligação entre as polícias Civil e Militar e as guardas civis municipais.
"Não tem cabimento a PM fazer o registro de ocorrência e depois o cidadão ter de ir à delegacia fazer um BO. A PM já deveria encaminhar esse boletim à Polícia Civil", afirmou o relator da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Crime Organizado, deputado estadual Elói Pietá (PT).
Pietá acha ainda que os policiais não deveriam executar "funções de cartório", como redigir boletins de ocorrência, para se dedicar mais ao atendimento ao público e a investigações.
Na opinião de Jairo Fonseca, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), a população deveria ter mais facilidade para registrar ocorrências. Assim, o número de notificações de crimes aumentaria, aproximando as estatísticas da realidade.
"Se a pessoa vai a um DP e é mal atendida, não volta da outra vez que for roubada. A polícia deveria facilitar o registro de ocorrências, permitindo que ela fosse feita por telefone, carta, Internet etc."
A superlotação dos distritos policiais é outro ponto apontado para o mau atendimento dos policiais à população. Atualmente, cerca de 40% dos presos do Estado de São Paulo estão confinados em delegacias e cadeias públicas, sob responsabilidade de policiais civis.
"O policial civil hoje em dia é uma babá de presos. É impossível atender bem a população e fazer um trabalho eficiente de investigação tendo que dar comida para centenas de presos", afirma o deputado estadual Roberval Conte Lopes (PPB-SP), capitão da reserva da Polícia Militar.
Já o ouvidor da polícia de São Paulo, Benedito Domingos Mariano, acredita que os policiais precisam ser mais bem preparados, com noções de direitos humanos e cidadania. Segundo ele, o mau atendimento em DPs foi o quarto principal motivo de reclamação à ouvidoria em 96, com 225 casos.
Paulo Sérgio Pinheiro, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, também acha que há necessidade de melhorar o atendimento nos DPs. "É preciso melhorar o serviço do policial, que é um servidor público. A classe média, branca, é tratada de forma privilegiada, enquanto a pobre é humilhada."
"De cada dez cidadãos, quatro são dolosos, cinco são culposos e apenas um é cidadão de verdade", disse o deputado Erasmo Dias (PPB). Para ele, o "cidadão doloso" é o criminoso, o culposo é a vítima ou testemunha que não reage ou que não denuncia um crime. O "verdadeiro cidadão" é aquele que enfrenta o assaltante.
(OTÁVIO CABRAL e ANDRÉ LOZANO)

Texto Anterior: Infectologistas questionam erradicação
Próximo Texto: Assassinato aumenta em novos bairros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.