São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Assassinato aumenta em novos bairros

Mudança para periferia é a causa

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas nos cinco primeiros anos desta década cerca de 500 mil pessoas mudaram de bairro dentro da cidade de São Paulo, sempre em direção à periferia. Outro meio milhão foi além dos limites paulistanos e mudou-se para municípios vizinhos.
Essa migração não aconteceu sem consequências. A mudança de grandes contingentes de pessoas para áreas distantes e sem infra-estrutura urbana acabou se traduzindo, entre outros problemas, em aumento da violência nessas novas fronteiras.
Alguns dos distritos que mais receberam população entre 1991 e 1996 tiveram saltos no número de assassinatos ocorridos em suas ruas e entre seus moradores. O mesmo ocorreu em cidades do entorno da capital.
As estatísticas dos órgãos de vigilância epidemiológica e da polícia confirmam a escalada de homicídios na periferia.
Anhanguera foi o distrito paulistano que mais cresceu nesta década. Sua população dobrou num período de apenas cinco anos. Porém o número de assassinatos em relação à população cresceu ainda mais rápido.
Segundo o Programa de Aprimoramento das Informações sobre Mortalidade (Pro-Aim), da prefeitura, em 1994 não houve homicídios entre os moradores de Anhanguera.
No ano seguinte, o coeficiente de assassinatos por 100 mil habitantes foi para 11,85. Em 1996 a taxa dobrou: 21,03/100 mil.
Também na zona noroeste, a Brasilândia experimentou um crescimento populacional quase oito vezes maior do que a média da cidade: 3,1% ao ano. Não por acaso, a violência cresceu 46% nos últimos três anos.
O coeficiente do distrito saltou de 50,04 assassinatos por 100 mil habitantes em 1994 para 57,31/100 mil no ano seguinte e 78,19/100 mil em 1996.
Esse não é um fenômeno exclusivo da periferia paulistana, mas universal. "Quanto mais rápido cresce a população, maior é o aumento da violência", diz Nancy Cardia, coordenadora de pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência da USP.
Um dos motivos é a pobreza generalizada. Esses migrantes intramunicipais são empurrados para a periferia pelo custo de vida mais alto no centro. O resultado é que o novo distrito fica perversamente homogêneo: todos são excluídos.
Faltam exemplos na comunidade de pessoas com melhor condição de vida. Não há perspectiva de mobilidade social, explica Nancy.
Além disso, não há vida privada. Tudo é feito em público: desde pôr a roupa para secar até as brincadeiras das crianças. "Tudo isso aumenta a probabilidade de conflitos", afirma a pesquisadora.
Os dados sobre assassinato catalogados pela polícia mostram que essa tendência continua piorando. Entre o primeiro semestre de 1996 e junho deste ano, as "manchas negras" no mapa policial paulistano passaram de sete para nove.
As áreas pintadas de preto correspondem aos distritos policiais onde há mais de 12 homicídios por mês. Todas os nove onde isso acontece ficam na fronteira de São Paulo com outros municípios, a mais de 20 quilômetros do centro.
Uma das duas novas "manchas negras", a do 74º DP, corresponde ao distrito da Brasilândia. A outra, o 22º DP, abrange o Jardim Helena, no leste da cidade. A população de ambos os distritos cresceu muito nesta década: 3,1% ao ano.
Também no mapa do Pro-Aim (veja nesta página) os distritos que apresentam os maiores coeficientes de homicídios são aqueles que tiveram maior crescimento populacional recente, como é o caso de todo o extremo da zona sul.
O que acontece com a ocupação desses áreas periféricas, explica Nancy, é a multiplicação da carência. "Se a infra-estrutura existente já era precária para dez, piora muito quando passa a servir cem", diz.

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