São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Moradores chegam junto com asfalto

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os novos moradores do distrito de Anhanguera (zona noroeste de São Paulo), região que teve o maior crescimento populacional na capital entre 1991 e 1996, chegaram junto com o asfalto, as linhas de ônibus e a iluminação pública.
Formado por bairros pertencentes a Perus e Pirituba, o distrito de Anhanguera tem moradores vivendo a até 23 quilômetros do centro de São Paulo. As principais vias de acesso são as rodovias Anhanguera e Bandeirantes.
Ali, os investimentos públicos ainda são escassos. Faltam escolas de segundo grau, os hospitais ficam distantes e o asfalto só cobre as ruas principais.
Mas os poucos benefícios conquistados pelos moradores, alguns à custa de manifestações, não só facilitaram a vida de quem já vivia na região, mas também atraíram um grande contingente populacional, a maioria de baixa renda.
O ajudante desempregado Cláudio Rogério Porfírio, 27, é um bom exemplo da atração que exercem os benefícios públicos.
Depois de viver na Vila Jaguara, bairro já distante do centro, o ajudante mudou-se, em 92, para a Vila Sulina, ainda mais ao norte. Foi para a casa que o irmão construiu em um terreno da prefeitura.
"O aluguel na Vila Jaguara era muito caro. Meu irmão foi construindo e, quando ele instalou água e luz, a gente mudou."
Na nova casa, às margens da via Anhanguera, Porfírio não trocou nem de linha de ônibus.
"Eu continuo indo às lojas da Lapa para comprar o que preciso e aos bancos de lá para pagar contas", diz ele, que hoje mora em Morro Doce, ainda mais ao norte.
Só duas coisas fazem falta ao ajudante: um posto de gasolina e emprego. "Aqui só tem trabalho de ajudante em loja de material de construção."
Vizinha de Porfírio, Evangelina Leite Bordin, 51, assistiu à evolução do bairro. Moradora de Morro Doce há 18 anos, ela diz que o crescimento do bairro coincidiu com a chegada da iluminação pública e da coleta de lixo, conquistas dos moradores mais antigos.
"A gente parava a Anhanguera todo domingo para exigir que instalassem a água", diz ela, que anda pensando em ressuscitar os protestos para conseguir asfalto.
Evangelina não sente falta de hospitais públicos nem de escolas. "Tenho convênio e minha única filha já casou."
Mas concorda que o bairro ainda tem muito para evoluir. "Aqui só é bom para dormir e depois cair fora. Acho que é por isso que eu gosto, pois quase não passo tempo nenhum aqui", diz.
A violência do bairro também tem passado longe de sua porta. "De vez em quando aparece um morto, mas geralmente é bandido. Nunca invadiram a minha casa e eu nunca fui assaltada, nem quando não havia luz na rua e a gente subia a ladeira à noite, no escuro."
A região comporta famílias que chegaram para fugir da criminalidade.
Vanderlei Brás da Silva, 32, decidiu sair de Osasco depois de topar com um cadáver na frente da sua casa, em uma manhã de domingo.
O terreno onde hoje está construída sua casa era um barranco cheio de mato. O lote pertence à prefeitura, mas mesmo assim ele pagou ao suposto proprietário.
"Foi para evitar problemas com a vizinhança", diz.
O preço do terreno era tão baixo que foi pago com a venda de um aparelho de som velho.

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