São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Taxa de homicídio reflete qualidade de vida

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A relação entre o número de assassinatos e a população residente em uma determinada área (a taxa de homicídio) é um melhor indicador de qualidade de vida do que a mortalidade infantil. Ao menos para os distritos paulistanos.
É o que defende o médico Marcos Drumond, um dos coordenadores do Pro-Aim, programa da Prefeitura de São Paulo.
"A mortalidade infantil está mais sujeita a ações pontuais -como assistência de saúde e imunização- que não alteram as condições socioeconômicas."
Já em relação aos homicídios, diz Drumond, mal se implementam ações pontuais. Até porque medidas como desarmamento e limitação da venda de bebidas não são consensuais. Por isso, ele considera que a taxa de homicídio reflete melhor as condições de vida:
"Talvez só se consiga diminuir os homicídios atuando na melhoria de condições gerais de vida, como emprego, educação, lazer, salário. Ou seja: projetos de médio e longo prazos que necessitariam ser adotados por toda a sociedade."
Coordenadora de pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Nancy Cardia concorda com a tese. "A qualidade de vida é expressa pela taxa de homicídios". Ela lembra que a taxa de mortalidade infantil despencou na cidade. Na sua opinião, os homicídios ocorrem por problemas muito mais complicados de resolver do que a mortalidade infantil.
Sua solução, diz, implicaria mexer na polícia, no Judiciário, na escola, no trabalho, construir creches e proporcionar aos jovens opções de lazer alternativas à droga.
Outro indício de que a taxa de homicídios é um melhor indicador das condições de vida dos grupos sociais é sua ampla variação entre os distritos paulistanos.
Na mortalidade infantil, eliminando-se os dois distritos extremos para evitar distorções, a diferença entre os menores e os maiores índices é de três vezes -o risco de morte de uma criança com menos de 1 ano é três vezes maior em Guaianazes do que na Consolação.
Na taxa de homicídio, a discrepância é maior. Seguindo o mesmo método, verifica-se que o risco de um morador do Capão Redondo morrer assassinado é 12 vezes maior do que o de um morador da Lapa.

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