São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Epilepsia poderá ser curada sem cirurgia

NOELLY RUSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O hospital Beneficência Portuguesa implanta novo tratamento contra a epilepsia que pode dispensar o uso de medicamentos e a cirurgia comum.
É a radiocirurgia, um procedimento que trata o paciente com irradiações. Os raios são focalizados todos no mesmo ponto, onde está localizada a causa da epilepsia.
Apesar de os feixes terem "pouca força", são muitos e produzem carga forte o suficiente para destruir o foco epiléptico.
A epilepsia é uma desorganização do funcionamento cerebral provocada por uma "cicatriz". As crises se manifestam em problemas da fala, visão ou por convulsões, de acordo com o local afetado no cérebro.
A radiocirurgia focaliza a tal cicatriz perfeitamente e a "queima", eliminado a doença. O procedimento dispensa anestésicos e terapia intensiva, mas só é recomendado para casos não resolvidos com medicamentos. Mais de 90% das epilepsias são curáveis com remédios.
A radiocirurgia foi criada originalmente para o tratamento de tumores cerebrais. Como tratamento contra o câncer, o método é antigo. A partir dele, os médicos tentam a alternativa para a epilepsia.
"O tratamento deve estar disponível no final do ano ou no começo de 98. Estamos em fase experimental", diz Salomon Benabou, 42, diretor técnico da divisão de neurocirurgia do Hospital das Clínicas e da Beneficência Portuguesa.
"É a técnica mais moderna para o tratamento de epilepsia. Brasil, Estados Unidos e Europa caminham no mesmo ritmo para seu desenvolvimento", afirma Raul Marino Júnior, 60, professor-titular em neurocirurgia da Faculdade de Medicina da USP e chefe do serviço de neurocirurgia do HC.
Segundo ele, 1,3% da população brasileira sofre da doença. "Há várias causas para o aparecimento da epilepsia. Traumas diversos, como tombos, acidentes de carro e até partos podem provocar uma lesão e criar a cicatriz epiléptica", diz Marino Júnior.
O percentual de epilépticos na Colômbia é de 2% e de 0.5% nos Estados Unidos. "Há causas indiretas para a epilepsia relacionadas à pobreza. Em um país como o Brasil, onde a violência é uma das principais causas de morte, a probabilidade de alguém sofrer um trauma é maior que nos Estados Unidos", diz.
Segundo Benabou, a radiocirurgia para o tratamento da epilepsia só foi possível com exames de imagem (tomografia computadorizada e ressonância magnética).
"Os exames da imagem nos dão uma forma. Mas a epilepsia não é como um tumor, ela se manifesta pela alteração elétrica que provoca no cérebro. Por isso, o eletroencefalograma é tão importante."

Texto Anterior: Conheça os principais pontos do novo código
Próximo Texto: Einstein também tem aparelho
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.