São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Executivos aprendem a apagar incêndios

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Compare as duas histórias. Em agosto de 1991, um comunicado oficial da Nestlé informou os consumidores da ameaça de contaminação em seus produtos alimentícios, inclusive o leite Ninho.
A notícia chocou a população, e as vendas caíram. Mas, em 92, a empresa já contava com a confiança dos consumidores, graças à eficiente política de comunicação.
Menos de dois meses depois, a Van Melle se complicou com suspeitas de cocaína em suas balas. No início, notícias confusas sobre o fato confundiram consumidores.
A comercialização da bala foi proibida por quase 15 dias, e a empresa teve dificuldade para recuperar sua imagem.
O primeiro caso é um exemplo da nova estratégia que ganha força entre as empresas: em vez de fugir, aprender a administrar crises. O segundo, vai para o lado oposto.
Afinal, diz Henrique Lage, 44, gerente de segurança e ecologia da Novartis (indústria farmacêutica), crises não marcam hora para bater na porta das empresas e é preciso saber responder a elas.
A Aberje, associação brasileira de comunicação empresarial, confirma a tendência. No início da década, pouco mais de 10% das 1.100 empresas associadas participavam de algum programa de "media training" (seminários que ensinam a lidar com a comunicação) ou de administração de riscos.
"Hoje, mais de 90% de nossas associadas já participam de seminários na área", diz Paulo Nassar, 45, secretário-executivo da Aberje.
Início
"É a preocupação com a crise que traz o cliente", diz Flávio Valsani, diretor-presidente da LVBA, empresa que faz assessoria na área.
A preocupação da Novartis começou em 1986, quando um incêndio numa filial européia da Sandoz (uma das empresas que formaram a Novartis em 96) trouxe enormes problemas à marca.
Desde então, a multinacional montou equipes de emergência capazes de atender a qualquer demanda, desde passar informação à população até resolver o problema ecológico.
Notícia negativa
Roberto Parlato, gerente de assuntos públicos e institucionais da Nestlé, diz que, após o incidente de 91, a empresa começou a participar de "media training". "Estamos suscetíveis a muita coisa e é preciso saber falar em público."
Falar com o público, no caso, é tentar apagar o incêndio causado por uma notícia negativa.
No caso da ameaça de contaminação, a Nestlé optou por nomear um porta-voz -seu diretor jurídico- para transmitir informações à imprensa e aos consumidores. O leite Ninho voltou às mamadeiras.
O antiexemplo aconteceu com uma empresa química em São Paulo. Uma substância não-tóxica vazou em uma das unidades. Procurada pela população, a empresa negou o fato -afinal, a substância não faria mal a ninguém. No dia seguinte, jornais locais exibiam a notícia com destaque, com reportagens baseadas em depoimentos desesperados de pessoas mal-informadas. Pior, impossível.

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