São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Fusões e aquisições ampliam a globalização

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Para os que ainda andam à procura de dados e evidências para se convencerem de que a globalização não é, afinal, apenas um rótulo ideológico, as fusões e aquisições são um prato cheio.
O Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) está concluindo uma pesquisa sobre o assunto, coordenada por Alexandre Comim. O objetivo é estudar a centralização de capitais e a política antitruste no Brasil.
Mas o pano de fundo são os processos de concentração e centralização de capitais em escala mundial, ponto de partida para o estudo das relações entre democracia e poder econômico.
Fusões e aquisições não são novidade no capitalismo. O que o relatório final esclarece, entretanto, num anexo, é que a onda atual simplesmente não tem precedentes. O estudo afirma que sua dimensão e extensão praticamente caracterizam a grande novidade da atual globalização.
O estudo faz referência ao conceito de mundialização, usado por autores como Michel Aglietta e François Chesnais. Para Chesnais, que por muitos anos atuou na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a característica dessa fase do capitalismo é o aumento da concentração econômica para a maior parte dos setores com alta intensidade em pesquisa e desenvolvimento ou de alta tecnologia. A mesma lógica impera nos setores onde a produção é em larga escala.
Ocorreram quatro ondas de fusões: na virada do século, no "crash" de 29, no final dos anos 60 e no começo dos anos 80. A quinta onda, nos anos 90, é muito maior e mais longa que as anteriores.
Entre as características da nova onda de concentração dos investimentos está um ligeiro aumento da participação dos investimentos nas economias em desenvolvimento, que passaram de 22,5% em 1980 para 26,1% em 1995. China, México e Brasil respondem pela quase totalidade desses investimentos feitos recentemente.
Outro aspecto no relatório do Cebrap: as fusões e aquisições assumem cada vez mais a forma de associações que "não eliminam a independência econômica e jurídica do parceiro comprado".
Vistas por setor, as fusões e aquisições ainda são feitas predominantemente na indústria (nunca menos de 40%). Os serviços de utilidade pública, onde tem ocorrido boa parte das privatizações, respondem ainda por uma parcela ínfima do total (menos de 1% das operações no início dos anos 90).
Mas é o número de operações que torna evidente a dimensão da onda atual. Em 95 foram 22 mil operações (ou US$ 871 bilhões). No começo do século, eram 1.200.
Resta saber como ficam, diante dessa onda monumental, as velhas teorias da concorrência e, por extensão, os órgãos públicos, como o Cade, presidido por Gesner Oliveira, que tentam regular a concentração de poder econômico.

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