São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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COMUNISTA, MULHERENGO E MODERNO

SILVIO CIOFFI

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, o pintor Di Cavalcanti, nasceu na casa de José do Patrocínio, no Rio, em 6 de setembro de 1897, e começou sua carreira como ilustrador, em 1916. No ano seguinte, começou a pintar sob a influência do art nouveau.
Mas foi em São Paulo, para onde se transferiu em 1921, que esse pioneiro da arte moderna brasileira tornou-se conhecido.
Participante da Semana de Arte Moderna de 1922, Di consagrou-se pintando o carnaval, as várias festas populares e sobretudo as mulatas, que considerava "a síntese do sensualismo brasileiro".
Em 1923, Di Cavalcanti viajou para Paris, outra de suas obsessões, e lá viveu até 1925.
Durante esse período sofreu influências do cubismo de Picasso -que conheceu em 1924, durante o funeral de Lenin- e Braque. Fez também nesse período amizade com Jean Cocteau, Blaise Cendrars, Léger e Matisse. Em visitas à Itália, tornou-se também entusiasta da pintura de Ticiano.
A essa altura, Di Cavalcanti já era alguém que havia derrubado os valores da arte acadêmica e da moral provinciana. "Quanto mais me educo em Paris, mais amo carnalmente o Rio de Janeiro", costumava dizer.
De volta ao Rio, em 1925, aderiu ao Partido Comunista. Boêmio inveterado, usando quase sempre os óculos com apenas uma haste, dizia-se um apaixonado pelas mulheres, amante do peixe à brasileira e admirador das obras de Pancetti, Portinari, Guignard e Cícero Dias.
Também contava que estivera preso quatro vezes: "Três por atividades subversivas e uma por ter partido a cara de um cobrador da Light".
Depois de uma dessas prisões, em 1935, voltou à Europa para mais uma estada de cinco anos -e, embora sua pintura dessa época tenha temática brasileira, também revela a influência de muralistas mexicanos.
Nos anos 50 e 60, o pintor recebeu vários prêmios e, em 1971, cinco anos antes de sua morte, o Museu de Arte Moderna de São Paulo realizou grande retrospectiva de sua obra, quando Di já era considerado um dos grandes pintores brasileiros de todos os tempos.
Intuitivo, Di Cavalcanti também escreveu dois livros com suas memórias e foi poeta. Dizia, aliás, que considerava a poesia sua verdadeira vocação.
Homem de personalidade exuberante, foi também jornalista, fez jóias e tapeçarias -e um desses tapetes, para o Palácio da Alvorada, em Brasília, foi executado a pedido do amigo Niemeyer.

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