São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Duas mulheres entre o sagrado e o profano

OLGARIA CHAIN FÉRES MATOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Madre Teresa de Calcutá e Santa Tereza d'Ávila. Fazendo-se representante daquela que nos deixou suas "Moradas Espirituais", madre Teresa, num transporte mimético, duplica e substitui. É imitação que evoca e reúne vidas separadas pelos séculos e, no entanto, simultâneas.
Santa Tereza, em ascese e êxtase divino, transmitiu a experiência do martírio. Martírio que não é apenas dor e morte; é algo que a atinge "no mais íntimo de si".
Mais triste que a morte é o sofrimento -condenação mais intensa que trespassa, o desaparecimento, o nada. O êxtase é mistério metafísico e iniciático.
Nas modernas imagens, porém, o tempo não é apenas distância, mas separação. O ícone sagrado se dissipa na midiatização secular e sem fim.
Imagens construídas e transmitidas pelos meios de comunicação de massa excedem aquilo que pretendem tornar visível. Encerra-se o mundo sacralizado onde é preciso "ver para crer".
Acreditamos mais no "replay" do que em nossos próprios olhos. As imagens prescindem do "real".
Espelho invertido da religiosa que atravessou os anos em piedosa peregrinação pela "Cidade dos Homens", a princesa Diana é mulher, o feminino de vida breve e morte trágica num universo sem Deus.
Para os fiéis, madre Teresa brilhará para sempre em céus constelados.
Está preservada do esquecimento que a sucessão das imagens da mídia impõem. Ela é a idéia platônica, a presentificação do inteligível imutável, perfeito e luminoso, em comunhão com o ser.
A princesa pertence ao devir. Foi aparição bela, encantadora, fugaz.

Olgária Chaim Féres Matos é professora de filosofia na USP (Universidade de São Paulo) e autora de "Os Arcanos do Inteiramente Outro" (Brasiliense).

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