São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Turismo: um potencial não desenvolvido

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Na área do turismo, várias coisas me intrigam. Por que um país tão belo como o Brasil recebe menos de 2 milhões de visitantes por ano enquanto a Austrália, que é uma nação distante do Primeiro Mundo, recebe quase 4 milhões?
O pior é que, enquanto o mundo inteiro vê o turismo aumentar -em 1996, foram quase 600 milhões de pessoas que saíram a passeio-, entre nós ele diminui. Em 1992, a participação dos turistas entre os estrangeiros que aqui chegavam era de 73%; hoje, é de apenas 67%.
Os números de turistas que visitam o Brasil são simplesmente anêmicos perto do que ocorre em outros países. Em 1996, a França recebeu cerca de 61 milhões de visitantes; os Estados Unidos, 45 milhões; a Espanha, 42 milhões.
É verdade que esses países têm muitos atrativos. Mas o que explica que o México receba dez vezes mais turistas do que o Brasil? Portugal, que é um país pequeno, recebe 10 milhões por ano -enquanto o Brasil recebe menos de 2 milhões. A Rússia, com todos os seus problemas, foi visitada por 10 milhões de turistas em 1996. A Malásia atraiu quase 8 milhões de pessoas.
É intrigante também saber que um vôo entre São Paulo/Brasília/São Paulo custa mais de US$ 500 -praticamente o mesmo preço que se paga para ir e voltar de Miami. A ponte aérea Rio/São Paulo/Rio custa US$ 300 para um vôo de 35 minutos.
É difícil explicar também por que o hotel cinco estrelas no Brasil cobra em torno de US$ 300 quando se pode ficar em qualquer grande cidade do mundo (exceto em Tóquio) com o mesmo conforto e pela metade do preço.
Os turistas que aqui chegam reclamam com razão. Os hotéis brasileiros chegam ao cúmulo de cobrar US$ 20 por um café da manhã e mais de US$ 50 por uma refeição simples, sem bebidas alcoólicas. Tudo isso conspira contra o desenvolvimento do nosso turismo.
Cerca de 75% dos que nos visitam atestam que o Brasil tem os mais belos atrativos turísticos. Mas eles reclamam da falta de limpeza pública (19%) e sinalização adequada (20%); da insegurança (13%), dos táxis (11%) e do transporte urbano (12%).
Será que esses problemas são tão difíceis de resolver? Não vale a pena levar a sério uma política de turismo voltada para limpeza, segurança e preços para remover esses constrangimentos num país que tem tantas belezas e tantas carências de dólares?
Vi que as empresas aéreas e as redes de hotéis e restaurantes de São Paulo e Rio de Janeiro vão conceder um desconto de 50% nos fins-de-semana para os usuários da ponte aérea. Isso é bom, mas é muito pouco. Os preços precisam ser reduzidos ao longo da semana e também em Salvador, Fortaleza, Manaus, enfim, no Brasil inteiro.
São coisas intrigantes em um país que tem 8.000 quilômetros das mais lindas praias do mundo, um Pantanal com uma ecologia maravilhosa e uma região amazônica coberta de beleza e exotismo. Por que não aproveitar esse extraordinário potencial de divisas que só o Brasil possui?

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