São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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"Olha ali, Covas"

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O pai e a mãe abraçados ao caixão, em desespero.
A cena, que tomou todos os programas policiais da noite e avançou pelos telejornais, foi o emblema do "crime que chocou São Paulo".
O pai com a foto do menino, em convulsões de choro, no enterro. Foi falar revoltado e a mulher tapou-lhe a boca.
Ele já vinha falando, no "desabafo de um pai". Falava sem ordenação na Record, no SBT. Chorando sempre.
- O meu filho... arrancou meu pedaço... de mim...
Atacou a polícia:
- Foi a PM que sequestrou meu filho, e matou. Em quem confiar? Em quem confiar? Por que é que ficam, desde sexta, sob proteção da polícia? Porque são militares.
Atacou a Justiça Militar:
- Tem que ser comum, ter julgamento comum. Não ser julgado por eles...
Ecoou o ódio comum:
- Direitos humanos para bandidos, e para a gente que trabalha? Onde é que está? Onde é que está?
Atacou, repetidamente, o governador paulista:
- Olha meu filho ali, Mário Covas. Olha ali. Olha ali. A situação do meu filho... Eu perdi o meu filho, a metade do meu corpo está aí.
*
Ontem o Jornal Nacional mal registrou o sequestro. E não mencionou Covas.
*
O "relações públicas da PM" saiu com esta, na Globo:
- Embora as cenas tenham mostrado casos negativos, nós devemos lembrar os milhões de ocorrências policiais com 0,02% de reclamação.
Nada como a estatística.
*
Mangabeira Unger, mentor de Ciro Gomes, sobre FHC, ontem na Cultura:
- Somos governados, não por homens que acreditam no neoliberalismo, mas homens que não acreditam em nada. E por isso renderam-se às idéias e interesses dominantes no mundo... Os desiludidos governam os desesperados.

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