São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997 |
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Mercosul faz cúpula em meio à crise
CLÓVIS ROSSI
A cúpula é uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial, uma fundação suíça criada em 1971, que tem o status de consultora das Nações Unidas. Todo final de janeiro, o Fórum promove, na Suíça, seu encontro anual, batizado de "a cúpula das cúpulas". Parece um rótulo pretensioso, mas corresponde à realidade: os encontros anuais constituem a maior concentração de personalidades (governamentais, empresariais e acadêmicas) que o planeta consegue reunir. A cúpula do Mercosul é a versão regional do encontro anual, igualmente repleta de personalidades. Confirmaram presença, por exemplo, três dos quatro presidentes do Mercosul (o argentino Carlos Menem, o brasileiro Fernando Henrique Cardoso e o paraguaio Juan Carlos Wasmosy), além do chileno Eduardo Frei. É a terceira edição do fórum regional e a segunda que se realiza em meio a um confronto Brasil/Argentina. Na primeira, em 1995, a divergência era sobre a imposição de cotas, pelo governo brasileiro, para a importação de veículos, o que motivou forte protesto argentino. Os dois presidentes aproveitaram o fórum para uma reunião bilateral na qual se iniciou o desarmamento da crise. Agora, o confronto é algo mais complicado, porque envolve, além de aspectos econômicos, também o lado político. No âmbito econômico, é o Brasil que protesta fortemente contra a manutenção de restrições, pela Argentina, à importação de açúcar brasileiro. Disputa política No lado político, há uma disputa aberta entre os dois países pela vaga latino-americana no Conselho de Segurança das Nações Unidas, se e quando houver uma reforma nos estatutos da ONU. É razoável supor que ambos os temas serão discutidos nos encontros paralelos à cúpula, que se realiza no Hotel Renaissance, zona central de São Paulo. Até porque, além dos presidentes, está prevista a presença dos principais ministros dos dois lados (os chanceleres Guido Di Tella, da Argentina, e Luiz Felipe Lampreia, do Brasil, e os ministros Pedro Malan e Antônio Kandir, pelo lado brasileiro, e Alieto Guadagni, secretário argentino de Indústria, Comércio e Minas). EUA e Europa O encontro regional será também o primeiro teste público da unidade, até agora férrea, mantida pelos países do Mercosul na negociação com os Estados Unidos para a constituição da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Os EUA pressionam por uma derrubada relativamente rápida das barreiras comerciais entre os 34 países que comporão a Alca. O Mercosul quer jogar a queda das barreiras para a partir de 2005, o ano da tentativa para a concretização da Alca. O teste para a unidade do Mercosul surgirá logo na sessão plenária de abertura, hoje a partir das 18h. Haverá um pronunciamento do presidente Menem, seguido de mesa redonda em que se discutirá a integração hemisférica, na presença de responsáveis pelos três lados: Lampreia e Malan, pelo Brasil, Di Tella, pela Argentina, e Thomas McLarty, conselheiro do presidente dos EUA, Bill Clinton. O mediador será o economista dos EUA Fred Bergsten (Instituto para a Economia Internacional), um fanático do livre comércio, a ponto de pregar um mundo sem fronteiras comerciais a partir de 2010 ou, no máximo, 2020. Mas o debate sobre a integração hemisférica comportará um ator externo, a União Européia. Na sexta-feira, haverá mesa-redonda sobre as relações UE/Mercosul, com a presença de Manuel Marín, o espanhol que é vice-presidente da Comissão Européia, o braço executivo do conglomerado de 15 países. Marín é um entusiasta da zona de livre comércio, que também está sendo negociada e, como a Alca, tem como data de tentativa o ano de 2005. Texto Anterior: Senado quer dados sobre guerra fiscal Próximo Texto: Menem vai anunciar nova lei sobre açúcar Índice |
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