São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Comércio já espera faturar menos em 97

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o consumo continuar no ritmo em que está, pela primeira vez depois do Real a venda física e o faturamento real do comércio devem ser negativos no último trimestre deste ano.
Com base no desempenho atual das vendas, a Federação do Comércio do Estado de São Paulo prevê que as lojas devem faturar em outubro, novembro e dezembro 10% a menos do que em igual período de 1996. O volume físico deve cair 3% no período.
"Os números mostram que os preços estão menores do que os do ano passado e, ainda assim, as vendas, em unidades, estão caindo", afirma Vladimir Furtado, economista da federação.
As sobras do orçamento, diz ele, estão sendo usadas para pagar dívidas. "É muito difícil uma reversão desse quadro. O que pode amenizar a queda do consumo é uma redução das taxas de juros e o aumento do emprego."
Neste terceiro trimestre, segundo a federação, o faturamento real das lojas deve cair 7,7% sobre o de igual período do ano passado, e a venda física, 10%. "Os estoques, como consequência, ainda estão 10% acima do desejado."
A renda está comprometida para boa parte dos consumidores e é isso o que explica o fraco ritmo de vendas já há alguns meses, na análise de Natale Dalla Vecchia, diretor da Lojas Cem.
A Cem, conta ele, prevê faturar no último trimestre deste ano entre 15% e 20% a menos do que em igual período de 1996. A venda física deve cair 10%.
Dalla Vecchia admite que a queda nas vendas está ocorrendo depois de dois anos de salto. No ano passado, o faturamento da rede cresceu 50% sobre o de 1995, que já havia dobrado sobre o de 1994.
"Estamos chorando, sim, porque chegamos a projetar crescimento de 20%. Não dá para pensar em voltar para trás."
Emílio Alfieri, economista da Associação do Comércio do Estado de São Paulo, diz que muitos lojistas estão adiando as compras e as previsões para o final do ano.
"Eles estão esperando o Dia da Criança e que o ritmo de pagamento de dívidas atrasadas continue."
Carnês quitados
Pelo levantamento da associação, 999.610 carnês foram quitados de janeiro a agosto deste ano -59% a mais do que o de igual período de 1996.
Esse crescimento, diz Alfieri, animou os lojistas, mesmo levando-se em conta o fato de o número de carnês em atraso também ter aumentado no período: 51,3%, de 1.313.812 para 1.987.715.
Para Alfieri, o que os lojistas observam é que não há intenção do consumidor de usar o 13º salário para compras, mas, sim, para pagamento de dívidas.
No Magazine Luiza, rede de 82 lojas, a previsão de crescimento só se explica pelo fato de a empresa ter adquirido outra rede no ano passado e estar investindo muito em promoções.
"Devemos faturar neste final do ano 30% a mais do que em igual período do ano passado porque temos mais pontos-de-venda. Mas reconhecemos que o consumo está em queda", diz Luiza Helena Trajano Rodrigues, diretora.
Nos seus cálculos, essa queda é de 15% a 20%. "Para enfrentar isso, estamos investindo em promoções." Nesta semana, por exemplo, a empresa está vendendo qualquer produto em cinco pagamentos. Os juros são de 1% ao mês.

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