São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Self-service, tormento dos frentistas

ANTONIO PORCINO SOBRINHO

A discussão sobre a implantação do self-service nos postos de abastecimento de combustíveis em São Paulo ganhou novo impulso com o projeto de lei que tramita na Câmara Municipal dispondo sobre a proibição do sistema no âmbito da capital. A medida já foi adotada em várias cidades paulistas, como Campinas, São Bernardo do Campo, Santos e Ribeirão Preto, entre outras, sob argumentos semelhantes: sua introdução encerraria nefastas consequências econômicas, sociais e de saúde pública.
Com efeito, o estabelecimento do sistema self-service nos postos de gasolina ameaça o emprego de aproximadamente 60 mil trabalhadores do segmento só no Estado -20 mil na capital- e coloca em risco a segurança e a saúde dos usuários, que não têm a prática e a habilidade de manipulação de combustíveis como os frentistas.
Essa atividade requer algum treinamento específico, o cumprimento de disposições legais rígidas de segurança e outras providências -a Fundacentro (fundação ligada ao Ministério do Trabalho) determina, por exemplo, que os operadores dessas bombas usem máscaras, tampões de nariz e luvas de proteção, entre outras prevenções.
Recorde-se que o risco é agravado pela mistura de metanol no combustível -e ainda não se sabe o quanto essa substância é prejudicial à saúde. Segundo relatório de um seminário sobre vapores de metanol e efeitos na saúde promovido pelo ILSI Risk Science Institute, de Washington, EUA, a acumulação de formato -o metabólico tóxico chave do metanol- causa males que, conforme a quantidade inalada ou em contato com a pele, levam ao estado de coma e à morte.
O relatório conclui que o metanol pode ter duas síndromes diferentes: toxicidade aguda associada ao formato e toxicidade crônica coligada ao metanol.
Em ambos os casos, a população está exposta. Os grupos particularmente sensíveis aos efeitos nocivos do metanol são mulheres grávidas, pessoas idosas, alcoólatras e usuários de remédios anticonvulsivos e anticoncepcionais.
De outra parte, o argumento de que o self-service contribuiria para o barateamento do álcool e da gasolina cai por terra quando se vêem postos oferecendo descontos e fazendo promoções -como sorteio de carros zero quilômetro, lavagem gratuita, cheque pré-datado para até 81 dias etc.- sem a implantação desse modelo.
A idéia de estabelecer o auto-serviço no Brasil é das multinacionais, que já dispõem de know-how em seus países de origem. Mas a experiência nos EUA, por exemplo, demonstrou que, além de provocar o desemprego em massa, sua introdução levou à falência as pequenas redes de postos e a quase totalidade dos estabelecimentos individuais e significou a bancarrota de 123 mil postos de gasolina norte-americanos -isto é, dos 230 mil existentes, sobraram apenas 107 mil, quase todos pertencentes às próprias distribuidoras (Shell, Atlantic etc.).
Por conseguinte, nossa oposição ao self-service não é um mero desejo impulsivo, mas leva em conta a necessidade de evitar quebra de empresas, demissão em massa de trabalhadores e exposição a riscos da população. Por essas razões, virá em boa hora a aprovação do projeto de lei que tramita na Câmara Municipal proibindo o self-service em São Paulo.

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