São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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O pensamento de FHC

LUÍS NASSIF

A entrevista do presidente Fernando Henrique Cardoso a Roberto Pompeu de Toledo, na última "Veja", é oportunidade para que o debate político saia definitivamente do reino dos slogans e entre na discussão concreta de idéias e das críticas consistentes à política econômica e social.
De maneira abrangente, explica o novo modelo de país, moldado pela discussão de um conjunto de pessoas que se dedicou nos últimos anos a trabalhar essa nova visão nacional. E permite, pela primeira vez, que o leitor tenha uma visão estruturada dos diversos conceitos que compõem essa nova realidade.
Os principais trechos da entrevista, que me permito sintetizar, são os seguintes:
Opinião pública - O grande agente de mudanças do país, que levou ao fim do autoritarismo, foi o advento da opinião pública (que ele chama de "sociedade"). Na década passada, coube à sociedade "inventar" símbolos contra o autoritarismo, como o SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) -que tinha o próprio FHC como um dos expoentes-, Lula, os sindicatos, os empresários progressistas.
Globalização - A globalização não é um valor, que se queira ou não. É uma força já instaurada no capitalismo, que produz desastres, mas também modificações positivas. Há o risco da fluidez do capital internacional. Toda nação sabe disso, mas não sabe o que fazer.
Integração nacional - Há dois Brasis, o que se internacionaliza e o que fica à margem. A globalização não é uniformizadora. FHC se diz favorável a uma política industrial que permita a setores "enraizados" no Brasil produzir e competir na nova ordem. Significa criar condições tecnológicas de competitividade e oferecer financiamento adequado, com juros baixos, sem subsídio.
Emprego - Não acredita que o Brasil vá repetir a sina de desemprego da Europa. Há espaço para novos investimentos, enquanto na Europa, não. Além disso, temos uma estrutura de classe mais próxima da americana, na desigualdade, na escravidão, no espaço físico, na mobilidade geográfica e profissional das pessoas.
Exclusão social - A exclusão está diminuindo no Brasil, o barulho aumentando. O que ocorre é que a miséria hoje é mais visível, mais chocante e menos aceitável, porque no passado não se tinha como acabar com a miséria, e hoje se tem.
Estado - Na Europa há um Estado de bem-estar. As pessoas têm ligação positiva com o Estado, o que dificulta as reformas. Aqui, não há tanta prosperidade. O Estado é importante para resolver as questões de igualdade. Mas não cumpre seu papel da maneira como está montado. Daí a necessidade de reformá-lo.
Controles - A globalização é uma nova forma de dominação. O problema é como conviver com ela, e o que contrapor a ela. E a resposta é: democracia, radicalizar na democracia, tornar o Estado mais permeável, por meio de agências permeáveis ao controle da sociedade, cuidar do meio ambiente e colocar, acima de tudo, a questão da felicidade.
Esquerda - Nossa crítica de esquerda é conservadora. Ela acha que nada muda. Ou quer que nada mude. Como não é democrática na essência, e não reconhece que tem de haver o espaço público, que é o espaço da argumentação, conclui que só ela é capaz de mudar.
Direita - A direita prefere uma relação direta com o Estado, embora fale de mercado. Não se tem um verdadeiro pensamento de direita, aqui.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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