São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Marchas são tradição no país

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCA

Bem antes de o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) fazer sua marcha até Brasília, partidos de oposição e movimentos sociais do México já usavam esse instrumento de pressão para protestar contra o governo.
O próprio Estado de Chiapas, de onde os zapatistas acabam de sair em direção à capital, já serviu de cenário para grandes marchas. A maior ocorreu em 1992 para protestar contra desmandos do governador Patrocínio Gonzalez, que pertencia ao PRI (Partido Revolucionário Institucional.
Liderados pelo PRD (Partido da Revolução Democrática), milhares de pessoas percorreram os 1.500 km que separam Chiapas da Cidade do México. A marcha foi adquirindo adesões por onde passava. Acabou se transformando em uma grande manifestação.
A marcha de Chiapas é um marco das mudanças políticas ocorridas no México a partir de 1992. A exemplo do que aconteceu com o protesto do MST no Brasil, a opinião pública mexicana acompanhou todo o trajeto da marcha.
A imprensa mexicana, tradicionalmente submissa aos interesses do governo do país (salvo poucas exceções), foi obrigada a ceder grande espaço para a marcha. Jornais e TVs estrangeiros -principalmente dos EUA- também acompanharam a marcha.
Foram meses de caminhada. A marcha acabou no coração do poder -a praça do Zocalo, na Cidade do México, onde está localizado o palácio do presidente da República. Serviu de palanque para discursos de todos os tipos de excluídos, entre eles índios que mais tarde formaram a guerrilha zapatista.
Na época, a marcha não derrubou o governador, mas alcançou grande parte de seu objetivos. O PRD se consolidou como partido de oposição ao governo. Recentemente, Cuauhtémoc Cárdenas, seu principal líder, se elegeu prefeito da Cidade do México -hoje é forte candidato a presidente.
Os desdobramentos da marcha de Chiapas foram se sucedendo ao longo dos anos. Em janeiro de 1994, o Exército Zapatista surpreendeu o mundo ao ocupar várias cidades de Chiapas. A exclusão social de pobres e índios também foi bandeira da marcha de 92.
O governador Patrocínio Gonzalez não resistiu à ação armada zapatista e renunciou. Além da queda de Gonzalez, os zapatistas provocaram o primeiro grande abalo no PRI, que governa há 68 anos.

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