São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Serjão e suas verdades

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Toda vez que Sérgio Motta tem um destempero verbal aparece uma horda de tucanos para dizer sempre a mesma coisa: "É, ele pode ter até exagerado, mas é tudo verdade".
Não é bem assim. Muito pelo contrário. Anteontem, na sua última aparição verborrágica, o curioso Serjão falou muita coisa que não corresponde bem à verdade. Alguns exemplos:
1) reforma econômica - Serjão disse que "nenhum outro partido", além do PSDB, teve participação nas mudanças estruturais da economia. A verdade é que nada -ou quase nada- teria sido aprovado pelo Congresso sem os votos do PFL, PMDB e PPB;
2) infidelidade partidária - o ministro disse considerar "uma vergonha" a entrada do ex-governador da Bahia Nilo Coelho no PSDB.
O fato é que o PSDB se dedica a caçar políticos a laço no país inteiro. Entra todo tipo de gente. O partido elegeu apenas 62 deputados federais em 94. Ontem, a Secretaria Geral da Câmara computava 96 tucanos.
Aliás, o apetite tucano por aumentar sua bancada é tamanho que dois acusados de venda de votos quase entraram no partido.
Para finalizar esse item, o discurso de Serjão contra a migração partidária foi feito na cerimônia de filiação de um deputado do PMDB quercista que se bandeou para o PSDB. Como se vê, coerência não é o forte do ministro;
3) os "ronivons" - nesse trecho, Serjão conseguiu se superar. Referiu-se aos fisiológicos do Congresso usando o nome de um ex-deputado que diz ter recebido dinheiro gerado numa traficância engendrada pelo próprio ministro das Comunicações.
*
Esses pequenos exemplos da fala de Serjão ilustram o primarismo político do principal ministro de FHC.
Para sorte do presidente, como o seu governo tem muita reserva de imagem para gastar, as consequências serão, é quase certo, nulas.
O problema para os tucanos é que a eleição presidencial ainda está a mais de um ano de distância. E, até lá, Serjão vai falar muita coisa. Muito mais.

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