São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 1997
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Fetiche é moda; moda é fetiche

'Corsets' e couro viram referência

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Uma das referências para a moda dos anos 90 é o universo do fetiche. De 92 para cá, estilistas do circuito internacional como Jean Paul Gaultier, Claude Montana, Azzeddine Alaia, Tierry Mugler e mesmo Gianni Versace voltaram seus olhos para esse repertório visual bem específico. Fetiche é pura moda.
Na última temporada, a inspiração chegou também aos criadores brasileiros e às principais revistas de moda, nacionais e estrangeiras.
Mas, afinal, o que define esse estilo? Quais itens caracterizam o look do fetiche? Fetiche remete necessariamente ao código visual dos sadomasoquistas?
O livro "Fetish - Fashion, Sex & Power", de Valerie Steele, lançado este ano pela Oxford University Press, traça um bom apanhado dessas interseções.
Nele, a autora conta a história do fetichismo como patologia sexual, em que o fetichista valoriza, mais que o ato em si, o culto a objetos e a peças relativos à figura feminina.
O termo foi usado pela primeira vez em termos sociológicos em 1887, no ensaio "Le Fetishism dans l'Amour", de Alfred Binet. Depois, foi adotado por outros estudiosos de desvios sexuais, como Richard von Krafft-Ebing -o mesmo que cunhou os termos sadismo, a partir do Marquês de Sade, e masoquismo, a partir de Leopold von Sacher-Masoch, ele mesmo autor do clássico fetichista "Venus in Furs".
Krafft-Ebing definiu fetichismo como "a associação de luxúria com a idéia de certas porções da figura feminina ou com certos artigos do uso feminino".
Assim, podem ser chamados de fetichistas pessoas que têm taras por sapatos ou "corsets", por exemplo. "Mas o que acontece quando pervertidos e normais começam a se vestir do mesmo jeito?", instiga a historiadora de moda Valerie Steele em seu livro.
Em 1974, a loja londrina Sex, de Vivienne Westwood e Malcolm McLaren, dava os braços para o recém-nascido punk e vendia peças de fetiche e sadomasoquismo. A própria Westowood, que depois viria a se tornar a principal incentivadora do uso moderno do "corset", usava um total look s&m como roupa normal.
O fetichismo chique veio, entretanto, com as fotos de Helmut Newton, no material publicado na revista "Vogue" América em 77. O editorial "Woman of Superwoman?" usava roupas pretas em borracha e couro. A imagem era quase a de uma amazona, que também pode ser interpretada como uma dominatrix sadomasoquista.
Eram as mulheres fortes e poderosas de Newton, para quem o sexo é o interesse principal, que encontram ressonância também na imagem da mulher de hoje.
Hoje, o "crossover" dos elementos do fetiche para moda existem referentes a uma imagem de "bad girl", mais agressiva, que convém à mulher moderna. Daí seu apelo para o público feminino, e não somente do fetiche como objeto de consumo masculino.

Livro: Fetish - Fashion, Sex & Power
Autora: Valerie Steele
Encomendas: livraria Freebook: (011) 256-0577.

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