São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Stedile prevê radicalização da violência

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Os dirigentes nacionais do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile e Gilmar Mauro previram ontem no Rio a radicalização da violência no campo, com o surgimento de grupos de sem-terra independentes do MST.
Em entrevista à Folha, Stedile afirmou que estão surgindo grupos isolados, fora da ingerência do movimento e sem organização. Disse que o MST tem controle de sua base e prepara novas ocupações até o final deste ano.
"Não perdemos o controle da nossa base. O governo precisa abrir o olho, porque a política dele está criando um barril de pólvora, novos movimentos que, no desespero, apelam para a violência", disse Stedile.
"Se o governo não acelerar a reforma agrária e não resolver o problema da pequena agricultura, certamente se multiplicarão ações de violência como esta que aconteceu no Paraná", afirmou, referindo-se aos sem-terra que torturaram dois fazendeiros e empregados na fazenda Cordilheira, em Jundiaí do Sul (PR).
O MST divulgou também uma nota pública repudiando a violência dos sem-terra do Paraná e informando que eles não estão ligados ao movimento.
Stedile disse que o MST prepara uma aliança com os agricultores "com terra" para forçar o governo a mudar a política agrícola e a apressar as desapropriações. As manifestações conjuntas com os pequenos produtores rurais começarão pela região Sul do país.
"Os com-terra começam a manifestar a radicalização também. É uma pena o descaso do Ministério da Agricultura. O ministério é uma tapera (casa em ruínas) velha."
Stedile teve uma audiência com a juíza Salete Maccalóz, da 7ª Vara da Justiça Federal no Rio, e foi homenageado na Câmara de Vereadores de Niterói (a 13 km do Rio).
"Frouxos"
Também dirigente nacional do MST, Gilmar Mauro participou de um encontro de sindicalistas e previu o mesmo que Stedile. Disse que os novos movimentos de sem-terra que começam a surgir são mais radicais que o MST porque não encontram espaço de negociação com o governo e com a sociedade.
"Eles não têm entendimento que a reforma agrária é um processo de lutas e acabam se apegando à solução do problema imediato. Foi lamentável o que aconteceu no Paraná, mas foi o reflexo da situação econômica e da incompetência do governo em fazer a reforma agrária", disse.
Mauro afirmou ainda que o governo está tentando colocar "no mesmo saco" o MST e todas as ações violentas. "Às vezes acho que estamos sendo frouxos, estamos controlando uma situação e ainda levamos a culpa. Não é com meia dúzia de fuzis que vamos fazer a reforma agrária."
Manifestação
O MST planeja uma manifestação em Vitória no dia 17 de setembro, quando a 1ª Câmara Criminal deve encerrar a votação sobre o pedido de transferência do julgamento de outro líder do movimento, José Rainha Júnior, de Pedro Canário (a 270 km de Vitória) para a capital capixaba.
A votação está empatada em um a um. O desembargador Wellington Citty dará o voto decisivo.
Stedile disse que convidou para a manifestação Luiz Inácio Lula da Silva, Leonel Brizola e o ativista político José Ramos-Horta, Nobel da Paz em 1996, que estará no Brasil na semana que vem.

Texto Anterior: Sítios de SP mantêm mão-de-obra ilegal
Próximo Texto: Governo faz leilão para comprar terras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.