São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo faz leilão para comprar terras

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Política Fundiária vai usar um instrumento inovador de aquisição de imóveis rurais para reforma agrária no próximo dia 30 de setembro.
Trata-se do primeiro leilão de terras no país. Será realizado na Bolsa de Cereais e Mercadorias de Maringá (PR), com o objetivo de comprar 5.000 hectares na região noroeste do Estado do Paraná.
Ao contrário dos leilões tradicionais, nos quais o objetivo é vender pelo maior preço, no leilão de terras, o governo vai comprar áreas rurais pelo menor preço.
Estabilização
O ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) diz que a iniciativa é o piloto da introdução no país do leilão eletrônico de compra de terras, que será feito por meio dos computadores do Banco do Brasil.
Para o ministro Jungmann, a possibilidade da compra de áreas rurais pelo menor preço é fruto da estabilização econômica, que derrubou os preços da terra.
O objetivo, de acordo com Jungmann, é agilizar a transferência dessas terras para trabalhadores rurais sem terra. O Ministério da Política Fundiária calcula que poderá assentar cerca de 400 famílias com a compra desses 5 mil hectares no noroeste do Paraná.
Desde a introdução do Plano Real, em julho de 1994, o preço da terra caiu entre 45% e 70% no país, com uma média nacional de 50%.
Jungmann disse que o leilão é um novo método de desapropriação. Esse sistema não vai substituir os métodos tradicionais de desapropriação de áreas improdutivas e de aquisição direta de terras.
"É um ajuste que estamos fazendo face às rápidas mudanças na área fundiária", disse Jungmann.
Segundo Jungmann, isso mostra que o Plano Real está levando a cabo uma espécie de "confisco social sobre o capital improdutivo empatado nas terras".
O governo pagará os donos das terras adquiridas pelo sistema de leilão parte em dinheiro e parte em TDAs (Títulos da Dívida Agrária).
O sistema de leilão será aplicado em áreas como o noroeste do Paraná e região Sudeste, onde há exaustão do instrumento da desapropriação.
"Essas são áreas onde são necessárias pelo menos seis vistorias para se encontrar uma área que possa ser desapropriada, o que onera a operação e não atende à urgência da reforma agrária."
O ministro Jungmann discorda de uma crítica do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) segundo a qual o sistema de leilão para a compra de terras beneficiaria os proprietários rurais.
Ele atribuiu essa crítica à "visão punitiva" do movimento social, mas, segundo Jungmann, hoje, a superoferta de terras devido à queda dos preços, criou um movimento nacional e silencioso dos "com muita terra".
Segundo o ministro, a queda acentuada do preço da terra no país está gerando uma pressão muito forte sobre a estrutura do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
"Essa pressão causa, muitas vezes, tentativas de corrupção. Isso não é possível no mecanismo de leilões abertos, que é mais funcional para a reforma agrária."

Texto Anterior: Stedile prevê radicalização da violência
Próximo Texto: Igreja registra 54 assassinatos em 96
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.