São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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Educação é a aposta dos europeus contra as drogas

EUNICE NUNES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O problema das drogas não será resolvido com repressão. A solução está em investir na educação e na informação da população, especialmente da juventude, assim como em resolver os problemas sociais que afligem a humanidade.
Essa é a linha dominante do moderno pensamento penal europeu, que hoje afirma a necessidade da descriminação total das drogas.
"A tendência doutrinária é descriminar o tráfico e o consumo, muito embora a tendência legislativa aponte apenas para a descriminação de algumas maneiras de consumo", afirma Paz Arenas Rodrigágñez, professora de direito penal da Universidade Complutense de Madrid (Espanha).
Ela falou sobre o processo de descriminação da droga no direito europeu durante o seminário internacional "Novos Rumos do Direito Penal e Processual Penal", promovido pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) nesta semana.
Paz Arenas diz que não se trata de uma descriminação anárquica das drogas. Continuariam criminalizadas a entrega, a venda dessas substâncias a menores de idade e incapazes, assim como as fraudes na comercialização, que seria controlada pelo governo.
Um dos mais fortes argumentos a favor da descriminação das drogas é que o tráfico de drogas -ao movimentar somas astronômicas de dinheiro- permite corromper todo o sistema: a polícia, o governo, os juízes e o sistema financeiro.
"A política repressiva exportada pelos Estados Unidos é hipócrita", afirma a professora espanhola.
Segundo ela, a perseguição ao tráfico e ao consumo é um pretexto para romper as garantias que alicerçam o estado de direito.
"Sob a capa do combate ao tráfico, desenvolvem-se leis excepcionais que dão aos governos poderosos meios de controle social: quebra de sigilo bancário, escuta telefônica, detenções arbitrárias, revistas corporais invasivas. O objetivo verdadeiro dessa política não é, portanto, a proteção da saúde pública e individual", critica.
Para ela, acabando-se com o lucro da proibição, o mercado ilícito será residual e os problemas menores e mais fáceis de resolver.
Jorge de Figueiredo Dias, professor de direito penal da Universidade de Coimbra (Portugal), concorda com a total descriminação das drogas leves (como maconha e haxixe). "Seria um mercado lícito, como é o de álcool e de tabaco."
Já quanto às drogas pesadas (como a heroína e outros derivados do ópio), Figueiredo Dias diz que deve haver uma distinção entre mercado legal e ilegal.
O viciado em heroína, sustenta ele, deveria ter o direito de confessar a narcodependência às autoridades e de solicitar tratamento. Neste caso, o dependente poderia consumir a droga sem qualquer responsabilidade penal.
"O mercado ilegal serviria aos curiosos e aos dependentes não confessos, ou seja, haveria uma redução do tráfico e uma ampliação do mercado legal, que seria gerido pelo sistema nacional de saúde", exemplifica o professor.

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