São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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Ser menino de rua é uma droga

ANTONIO SILVEIRA R. DOS SANTOS

A deterioração da qualidade de vida na maioria dos países do mundo e o consequente aumento da pobreza são reflexos dos padrões insustentáveis de consumo e produção que a humanidade vem utilizando há décadas, conforme conclui a Agenda 21, fazendo com que os países em desenvolvimento fiquem cada vez mais pobres e os desenvolvidos, mais ricos e poderosos.
Por sua vez, o Brasil tem se destacado no cenário mundial como um país de grande futuro para os investimentos, mas é o campeão de um título nada invejável: o de maior desigualdade social do planeta, segundo o Relatório de Desenvolvimento Mundial do Bird (Banco Mundial) de junho de 1996, perdendo inclusive para o Quênia e Zimbabue.
Essa desigualdade também tem como causa o grande percentual de desempregados, que atinge 5,2% da população economicamente ativa (segundo o IBGE), sem levar em conta o subemprego.
Em todo o mundo, calcula-se que mais de 1 bilhão de pessoas estão desempregadas e cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome, com previsão de 2,5 bilhões em 2025, segundo dados de 1995 da Population Action International, uma ONG norte-americana.
Pobreza, desemprego, excesso populacional só poderiam resultar no que vemos nas grandes cidades dos países subdesenvolvidos: muitas pessoas vivendo nas ruas. Pior: grande parte é de meninos e meninas, que vivem pelas ruas vagando, constituindo-se em um dos maiores problemas sociais.
Recente Relatório Mundial Sobre Drogas do Programa das Nações Unidas para a situação é gravíssimo. Pelos cálculos do Unicef, em 1990 havia 100 milhões de crianças de rua no mundo, sendo 40 milhões na América Latina, de 25 milhões a 30 milhões na Ásia e mais 10 milhões na África.
O relatório conclui que a cultura das drogas está muito ligada às crianças de rua, que as utilizam como fuga da pobreza, doença, dor e fome.
No caso do Brasil, o percentual das crianças de rua que consomem drogas é altíssimo: cerca de 70% dos menores dos centros de detenção de São Paulo e na cidade do Recife, conforme recentes estudos do Movimento Estadual de Meninos e Meninas de Rua.
Em decorrência do uso de drogas, as crianças sofrem violência física, sexual e social; passam a viver isoladas e predispostas ao crime, sem contar os danos físicos, as psicoses pela dependência, a depressão.
Tudo isso aliado ao grande risco da contaminação por doenças transmissíveis, como a Aids e a hepatite, pelo uso de seringas.
O problema das crianças de rua é gravíssimo e deve merecer da sociedade e das autoridades a devida atenção. Ser menino de rua é uma droga.

Antonio Silveira Ribeiro dos Santos, 46, juiz de direito em Diadema, membro do Conselho da Comissão do Meio Ambiente da OAB-SP e associado ao Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

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