São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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Prêmio à violência

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - A Polícia Militar do Rio promoveu ontem, mais uma vez, solenidade para premiar soldados por "coragem e destemor".
Reunidos em um quartel da corporação, 25 homens receberam promoção salarial em nome de supostos atos de bravura ou heroísmo.
Conhecida como "gratificação faroeste", tal iniciativa tem como resultado direto o aumento de mortes de civis em conflitos com PMs.
Desde que foi inventada, a gratificação recebe críticas de todo lado. Oficiais da corporação, por exemplo, não aceitam as distorções salariais que ela causa: ao proporcionar aumentos de vencimentos de até 150%, a gratificação pode permitir que um sargento ganhe mais que um tenente-coronel, subvertendo a hierarquia.
Mas a principal crítica refere-se ao reflexo da gratificação nas ações policiais. Segundo o deputado estadual Edmilson Valentin (PC do B), da CPI da violência no Rio, o prêmio em dinheiro fez com que muitos PMs passassem a se comportar como "caçadores de recompensa".
Os dados que preocupam de verdade constam de relatório produzido pelo escritório brasileiro da entidade de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch.
Em 92 atuações da PM fluminense que resultaram em gratificações de seus integrantes, morreram 72 pessoas e 24 ficaram feridas, diz a Human Rights Watch.
Esses dados não são novos e até agora não foram contestados. Quando os divulgou em abril deste ano, James Cavallaro, diretor da entidade no Brasil, sofreu críticas absurdas por parte de autoridades, como o secretário da Segurança, Nilton Cerqueira, que, em vez de se alarmar com os números, questionou a legitimidade da atuação de Cavallaro por ele ser estrangeiro.
Também este ano a OAB-RJ entrou na Justiça contra a "gratificação faroeste", mas ainda não obteve a resposta desejada.
A PM está na berlinda em todo o país por causa da ação criminosa de soldados. Aqui no Rio, a violência policial pode ser motivo de premiação.

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