São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Proálcool, um bom negócio

HÉLIO ROSAS

O álcool combustível, que é gerador de emprego, que mantém o homem no campo, diminuindo o êxodo rural, que protege o meio ambiente e ao mesmo tempo limpa os centros urbanos e os pulmões do homem, que aprimorou a nossa tecnologia e que configura um decisivo elemento de equilíbrio em nossa balança comercial (graças ao Proálcool, o Brasil conseguiu uma economia de 200 mil barris de petróleo por dia), felizmente está de novo na ordem do dia, na pauta da imprensa e nos planos do governo.
O Proálcool é e tem tudo para continuar a ser uma alternativa concreta de desenvolvimento sustentado para o Brasil, por meio do uso de abundante matéria-prima (a velha cana-de-açúcar) espalhada pelo país, trazendo inequívocos benefícios econômicos e sociais para os brasileiros, além da extraordinária vantagem ecológica para o planeta, numa escolha já assumida por boa parte dos países desenvolvidos.
Segundo informações coligidas pela Alco (Associação dos Produtores Autônomos de Álcool), praticamente todas as resoluções internacionais recentes, que tenham o meio ambiente e as fontes de energia como pano de fundo ou como tema central, colocam o etanol de biomassa como o melhor substituto para a era predatória dos combustíveis fósseis.
A 2ª Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos -Habitat 2- sugeriu ainda que houvesse uma cooperação ampla entre as nações, principalmente entre as em desenvolvimento, para que a troca seja concretizada o mais rapidamente possível -até porque o próximo século já começa com fortes restrições internacionais no tocante à emissão de gases poluentes.
Como maior produtor de álcool do mundo (ainda) e dono da maior rede instalada de distribuição, com mais de 25 mil pontos em todo o território nacional, o Brasil não pode perder a chance de colocar o etanol da cana à disposição dos brasileiros e do mundo para fazer mover o novo mundo globalizado e ambientalmente sadio.
No instante em que os países desenvolvidos -como a Suécia e os Estados Unidos- sinalizam para a troca de seus motores a diesel pelos a álcool, a Petrobrás anuncia o remédio errado para um mal crônico: um investimento astronômico, da ordem de US$ 1,2 bilhão, em sua unidade de hidrotratamento, a fim de reduzir o teor de enxofre do seu óleo diesel, comprovadamente um dos piores, em termos ambientais, de todo o planeta.
Trata-se de um autêntico caso de desperdício de dinheiro, aliado a alto grau de miopia estratégica. A própria Mercedes-Benz já está testando, em Curitiba, ônibus de sua fabricação movidos a diesel misturado com álcool, para reduzir efetivamente os nocivos efeitos poluentes do óleo -o gás carbônico emitido cai até 80%.
Se no Brasil as montadoras aguardam a definição do governo para reconquistar o consumidor e relutam em voltar à época, não muito distante, em que a absoluta maioria dos automóveis nacionais saía das fábricas com motores a álcool, nos Estados Unidos, por exemplo, a clara viabilidade do etanol de milho fez com que duas das maiores potências americanas -a Chrysler e a Ford- anunciassem com orgulho a colocação de algumas centenas de milhares de carros a álcool no mercado.
Isso exigirá, segundo os cálculos das duas empresas, a produção de uma quantidade disponível de 34 bilhões de litros de álcool combustível por ano. Note-se que, tratando-se do Proálcool, o que já foi bom para o Brasil passou a ser bom para o mundo inteiro -menos, parece, para nós, brasileiros.
O que é mais interessante notar nesse momento é que, enquanto o mundo desenvolvido corre atrás da formação de reservas nacionais de energia renovável -a energia estratégica e rentável do próximo século- o Brasil não enxerga uma oportunidade histórica de voltar a ter nas mãos o controle sobre um setor vital para a economia global, como o açúcar e o café já foram.
Mal comparando, o "ciclo do etanol" que se insinua tende a ser longo e bastante proveitoso para os países que liderarem o negócio. Será um grande pecado desprezar a clara demanda de exportação para o álcool combustível no mercado global.
Tanto o nosso álcool anidro quanto o hidratado teriam um forte poder de penetração em nações sem uma cultura de produção de combustíveis renováveis ou sem capacidade para atender o seu consumo interno.
O "Proálcool 2", como já vem sendo chamada a revitalização do programa, apresenta-se, portanto, até mais promissor do que o Programa Nacional de Álcool Combustível original, que data de 1975, do governo Geisel. Assim como a substituição dos derivados de petróleo é um caminho sem volta, o incremento das pesquisas e a abertura de novos mercados em vários países, ricos e pobres, traz uma ótima perspectiva comercial para o nosso pioneiro combustível renovável.

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