São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 1997
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Coronel vai ter que redistribuir homens

CRISPIM ALVES
MAURÍCIO RUDNER HUERTAS

CRISPIM ALVES; MAURÍCIO RUDNER HUERTAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O coronel da reserva da Polícia Militar José Vicente da Silva afirmou ontem que o novo comandante-geral da PM de São Paulo, coronel Carlos Alberto de Camargo, vai precisar redistribuir o efetivo da corporação, para atender melhor as áreas mais necessitadas, e se aproximar da Polícia Civil para não cometer os mesmos erros dos comandantes anteriores.
Vicente da Silva foi o principal responsável pelo programa de governo na área da segurança pública de Mário Covas quando ele era candidato ao governo do Estado. No primeiro semestre deste ano, se desentendeu com o secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva, e abandonou o governo.
"Primeiro, Camargo deveria fazer um remanejamento dos quadros, distribuindo melhor a tropa pela cidade, conforme a necessidade", disse o coronel.
"Mas falta um detalhe. Ele precisa promover um trabalho integrado com a Polícia Civil. Só assim a eficiência na prevenção e no combate à criminalidade será maior."
Vicente da Silva faz outra ressalva. Segundo ele, operações especiais, como a que começa hoje, têm eficiência limitada, ou seja, duram enquanto a ação existir.
A política de "tolerância zero" anunciada pelo novo comandante-geral da PM já foi aplicada no início deste ano em São Paulo.
Inspirada na ação da polícia de Nova York, que conseguiu reduzir os índices de criminalidade por meio do combate rigoroso a pequenos delitos e contravenções, a PM paulista atuou no centro da cidade, recolhendo mendigos e adolescentes das ruas.
Torneira aberta
Camargo chefiou a operação na época e afirmou que mais grave que a criminalidade era o problema social. "Se não houver um amparo social, tirar a população carente da rua é como enxugar o chão com a torneira aberta."
O presidente da seção paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Guido Andrade, considera possível a redução da criminalidade com o combate rigoroso a todos os delitos, desde que haja planejamento antecipado e preparo.
"Se houvesse planejamento, a polícia não teria tantos problemas com questões sociais", disse.
"O problema é que todas as pessoas suspeitas foram levadas a delegacias de polícia que não estavam preparadas para recebê-las. Depois, foram para albergues, que só souberam disso quando a polícia bateu à sua porta."
O psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg aponta ainda para uma "overdose de brutalidade inútil" como estopim da criminalidade.
"As pessoas estão reagindo com violência nas ruas, no trabalho, em qualquer situação", afirmou. "Existe uma degradação das relações interpessoais."

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