São Paulo, domingo, 21 de setembro de 1997
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Proposta indecente

OSIRIS LOPES FILHO

O povo tem tido um papel cada vez mais reduzido neste governo do presidente FHC. É um período minguante da atuação popular.
Reservam-se dois papéis ao povo: colaborar na consagração do novo mandato presidencial de FHC, tendo a honra de render-lhe o voto; e continuar a suportar uma carga tributária cruel e injusta.
O dr. Parente, poderoso vice-ministro da Fazenda, deitou falação nesta semana sobre a reforma tributária. Criou uma excitação geral. Principalmente, porque foi genérico, sem precisar aspectos importantes. Além disso, propôs mudanças significativas no atual sistema.
Alguns deputados ficaram maravilhados. Finalmente, viria o empurrão ao projeto de reforma tributária. Há dois anos nas gavetas da Câmara dos Deputados.
Aí vem uma originalidade. A proposta do dr. Parente era apenas uma sugestão, que não seria formalizada em substituição ao projeto anterior.
O Demian Fiocca acha que pode ser balão de ensaio, lançado pelo Ministério da Fazenda. Há efetivamente gás na proposta e com certeza seu cheiro não é dos melhores.
A reforma que o povo e as empresas deste país aguardam é a diminuição da indecente carga tributária atual. Trata-se de reduzir o número e a intensidade das incidências. Simplificar o sistema, sem deixá-lo mais confuso, como tem ocorrido ultimamente.
Não se pode destruir a Federação. Criar o Imposto sobre Valor Agregado da União, como sugerido em substituição ao ICMS, é retirar a seiva e o oxigênio da autonomia financeira dos Estados.
A União, pela voz de seus tecnocratas, atua mais uma vez com a sofreguidão do "deep-throat", a garganta profunda que almeja engolir o poder dos Estados emasculando sua capacidade financeira.

Osiris de Azevedo Lopes Filho, 58, advogado, é professor de Direito Tributário da Universidade de Brasília e ex-secretário da Receita Federal.

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