São Paulo, domingo, 21 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Guerrilheiro era arrojado no gol, diz ex-parceiro

MÁRIO MAGALHÃES
DO ENVIADO ESPECIAL A LETICIA

Aos 75 anos, o médico aposentado Alberto Granado continua apaixonado por esportes. Morando em Cuba, pratica golfe, natação e vê futebol pela TV.
Ele conheceu Ernesto Guevara na cidade argentina de Córdoba.
Técnico do time de rúgbi do Estudiantes, Granado deu uma chance ao novo amigo, apesar do fraqueza física do futuro Che, então com cerca de 15 anos.
Foi com Granado que Guevara fez sua primeira viagem pela América Latina. Começaram de moto, mas ficaram a pé. Em vários países, jogaram futebol.
A separá-los, o clube de coração -Che torcia pelo Rosario Central e o amigo, pelo Racing.
Granado falou à Folha por telefone, de Havana.(MM)
*
Folha - O senhor ainda se lembra do torneio em Leticia?
Alberto Granado - Sim. O detalhe é que a final terminou empatada, e a definimos em pênaltis. Che defendeu o primeiro, e o nosso jogador atirou sobre o travessão. Estava 0 a 0. No segundo penal, o nosso cobrador voltou a chutar fora, e perdemos.
Folha - O senhor não cobrou nenhum pênalti?
Granado - Não, nenhum. O escolhido foi o capitão do time, que era um tipo muito conhecido, batia duro.
Folha - Como era o Ernesto Guevara goleiro?
Granado - Muito bom. Tinha um posicionamento muito adiantado. Na minha época, os goleiros ficavam entre os três paus. Ele, não. Che também saía muito. Era bom, se arrojava.
Folha - Quando jogava na linha, qual era a posição de Che?
Granado - Era uma espécie de número 4 da época. Apesar da asma, era persistente. Gostava de marcar pontas.
Folha - E o senhor, jogava no meio-de-campo ou no ataque?
Granado - Um pouco em cada. Era como Didi (brasileiro).
Folha - O senhor se recorda de quantas equipes competiram?
Granado - Cinco. Havia um jogador de calça curta, não calção. Um calçava sapatos, e não chuteiras. Leticia era uma ilha.
Folha - Quem foi o treinador?
Granado - Os dois. Ambos conheciam bastante futebol, mas eu conhecia mais que ele.
Folha - Não é ironia Che ter jogado num time de militares?
Granado - Sim, mas eram recrutas que estavam fazendo o serviço militar, na maioria.
Folha - O senhor se recorda de detalhes da cancha?
Granado - Ela estava rodeada pela selva. Era boa, mas, para um latino-americano urbano, para um argentino, era inusitada.

Texto Anterior: Che: bom de bala, bom de bola
Próximo Texto: Forasteiros pediam para pescar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.