São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 1997
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Uma final histórica, e sem cabeça-de-bagre

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Uma decisão para entrar na história. Não só pelo altíssimo nível técnico da disputa -não havia em campo um único cabeça-de-bagre-, como, sobretudo, pelo desenrolar do enredo, cheio de alternativas, num clima de densa tensão.
No primeiro tempo, Gana foi melhor, mais aguda nos contragolpes, sob o comando desse magnífico Attram, gato, pelo menos, no felino instinto de tratar a bola e atacar o inimigo. Gana, 1 a 0.
No segundo, o Brasil, até então com toques europeus, foi mais brasileiro do que nunca: atirou-se ao ataque, varou aquela floresta branca de pernas negras, recorrendo à malícia mulata dos nossos Ronaldos e Matuzaléns, que, mesmo em desvantagem numérica (Fábio Pinto foi expulso), nos levaram à virada consagradora. No fim, Brasil, 2 a 1, campeão dos sub 17.
E assim desmente-se o suicida: no futebol, o Brasil é o país do passado, presente e futuro.
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Pode-se culpar Joel Santana pela derrota do Corinthians diante do Grêmio, sábado à noite, como o fez Rivellino, na Band, por ter tirado de campo o armador Souza quando mais dele necessitava o time, que perdia e buscava o empate.
Mas o fato é que o Corinthians teve o domínio do jogo a maior parte do tempo, e perdeu gols incríveis antes de tomar o segundo tento.
Joel tem lá sua parcela de culpa. Mas não vejo nesse elenco o brilho que anuncia dias mais luminosos.
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Foi um passeio do Palmeiras no Parque. Basta dizer que meteu 5 a 0 no Santos e o goleiro Zetti, com meia dúzia de defesas espetaculares, foi o melhor jogador adversário.
Quanto ao Palmeiras, sobraram talentos: Alex, Oséas, Zinho, Pimentel, Júnior, Viola e Galeano deram o tom do jogo -veloz, inteligente e agudo, como se quer ver em campo.
Em contrapartida, o Santos embrulhou-se num meio-campo mal armado por Luxemburgo e naufragou na falta de inspiração de Macedo, Caio, que desperdiçou um pênalti, Arinélson e cia.
O fato é que a ironia de Felipão, antes do jogo ("Agora, vou mandar o time jogar como a Academia dos tempos de Ademir da Guia"), virou realidade em campo.
É a ironia da ironia.
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O São Paulo, que finalmente converteu em gols sua superioridade, vencendo sábado o Vitória por 3 a 1, arranca em direção a uma vaga na segunda fase do campeonato.
Trata-se de uma reedição do que já ocorreu antes, tanto com Muricy quanto com Dario Pereyra, que ontem foi demitido e reposto no cargo, numa comédia de erros digna dos teatros de revista.
Foi assim no Brasileiro passado e no Paulistão. E tudo indica que assim será, posto que esse tricolor, quando se veste de zebra, vira leão. Isto é: não tem estrutura emocional para carregar o fardo de um dos candidatos favoritos.
Menos mal, porém, que não se materializou a ida de Edinho para o Morumbi. Caso contrário, o São Paulo estaria perdendo até a dignidade.

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