São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 1997
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Que país é este?

ANTONIO CARLOS DE FARIA

Rio de Janeiro - Quem anda fazendo a pergunta acima e não acha respostas, a não ser a conclusão de que vivemos numa espécie de república de serjões, encontra no show de Antonio Nóbrega um prazeroso antídoto contra a depressão.
O artista pernambucano mostra a riqueza das forças culturais que interagem espontaneamente no país. Definitivamente, a realidade não se resume apenas às manifestações de ACMs, FHCs e outros serjões mais ou menos sutis.
Nóbrega, em certo momento do seu novo espetáculo, estreado neste final de semana no Rio, diz que do meio de algo aparentemente errado pode surgir uma coisa muito certa.
A afirmação é feita a propósito da história da palavra frevo, gerada pela dificuldade do povo em falar corretamente uma das desinências do verbo ferver.
Fica para o público a expectativa de que esse mesmo processo de criação por vias tortas possa estar ocorrendo agora, em escala nacional, sem que ninguém esteja percebendo.
O show tem esse dom de reavivar esperanças. Didático, sem nunca perder o senso do entretenimento, Nóbrega remexe várias das vertentes que resultaram no Brasil e permite enxergar as tradições seculares da cultura do país.
Por meio da música e da dança, o artista mostra as fusões de passos, cadências e sons que fizeram a valsa, a capoeira e a marcha se mesclarem, chegando ao mais puro Carnaval das ruas de Olinda e Recife.
Há quem diga que a arte pernambucana está tomando o cenário nacional, dando fim a um período de predominância baiana. A obra de Chico Science, os rapazes do Mestre Ambrósio, o surpreendente "Baile Perfumado" seriam expressões desse novo reinado.
Nóbrega faz disparar em cada um o velho alarme que lembra que há interação em tudo. Pernambucanos e baianos, por essa via, são versões irremediavelmente unidas de uma brasilidade nordestina. Há espaço para todos no palco, apenas os holofotes estão agora voltados um pouco mais para o Norte.

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