São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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Li Peng defende países em desenvolvimento

CELSO PINTO
ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

A economia mundial está passando por um período extraordinário de crescimento com baixa inflação. No entanto, não faltam problemas e desafios, como ficou claro na abertura oficial da reunião anual do FMI e do Banco Mundial, ontem em Hong Kong.
O primeiro-ministro chinês, Li Peng, na sua primeira visita a Hong Kong depois da devolução para a China, em julho, abriu o encontro com um discurso forte em favor dos países em desenvolvimento.
"A prosperidade e a afluência de um pequeno número de países não podem durar muito baseadas na pobreza e no atraso da maioria dos países", disse Peng à platéia de milhares de representantes dos 181 países-membros do FMI e do Bird.
Peng propôs várias formas de melhorar as condições dos países em desenvolvimento -da maior atenção aos problemas do desenvolvimento à proteção contra crises financeiras. Ao mesmo tempo, reforçou com ênfase os compromissos da China com uma "economia socialista de mercado".
A recém-encerrada reunião do partido comunista chinês lhe deu os argumentos, ao aceitar incentivos a investimentos externos em alta tecnologia. Peng previu que a China vai crescer 8% ao ano até o final da década e 7% na primeira década do próximo século.
"Como diz um velho ditado chinês, ver uma vez é melhor do que ouvir a respeito uma centena de vezes", citou Peng, sugerindo que os estimados 14 mil participantes da reunião e 2.000 jornalistas poderão constatar como Hong Kong manteve sua independência. Um fortíssimo esquema de segurança, vários protestos e algumas prisões, porém, deixam claro que os sentimentos não estão tão apaziguados.
"Espírito de clube" O diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, chamou a atenção, no discurso de abertura, para os problemas que impedem o que ele chamou de "crescimento de alta qualidade". Na Europa, a falta de um mercado de trabalho mais flexível; na Ásia e na América Latina, a fragilidade dos sistemas bancários e, de forma geral, o uso ineficiente de recursos públicos.
Camdessus disse que as lições da crise monetária da Ásia "não são sobre os riscos da globalização e ainda menos a demonização dos mercados". Faltam políticas saudáveis, reforço no setor financeiro e sistemas adequados de supervisão.
Ele defendeu a idéia de que sejam criados mecanismos de supervisão e alerta a nível regional, com a cooperação do FMI. Algo no estilo do que o Grupo dos 7 países mais ricos já fazem entre si, ao chamar a atenção para problemas e fraquezas das políticas.
Esse "espírito de clube", como chamou, é a idéia alternativa do FMI à proposta japonesa de criar um organismo regional para apoiar países que sofram crise.
Um organismo desse tipo, entende o Fundo, provavelmente não conseguiria impor condicionalidades como o FMI e poderia ter o efeito deletério de estimular o risco nos mercados, pela percepção de que alguém bancaria o prejuízo.
Já o presidente do Bird, James Wolfensohn, concentrou-se no que ele chamou de "desafio da inclusão". A inspiração veio de uma visita sua ao Brasil, como mencionou no discurso.
Visitando uma favela no Rio, ele se impressionou com o fato de várias mulheres lhe mostrarem suas primeiras contas de água, a partir de um projeto de água encanada feito com ajuda do Bird.
Foi-lhe explicado que, com a conta, pela primeira vez elas tinham um reconhecimento oficial de sua existência. O grande desafio do desenvolvimento, concluiu, é a inclusão na sociedade.
Os países podem ignorar os desafios da pobreza, do meio ambiente, das guerras. "Mas temos que reconhecer que estamos vivendo com uma bomba de tempo e, a menos que comecemos a agir agora, ela poderá explodir nas faces de nossos filhos", disse.
Se nada for feito, em 30 anos o mundo terá não 3 bilhões de pessoais vivendo com menos de US$ 2 por dia, mas 5 bilhões.

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