São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Família não vê motivo para suicídio

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Neide morreu, sua filha, Maria da Conceição Alves dos Santos, tinha apenas 14 anos. "Mas lembro perfeitamente que não havia motivos para ela se suicidar", afirma. Conceição conversou com Neide pouco antes do Natal de 75.
Neide falou que passaria o Ano Novo com a filha, no Rio, onde ela morava com uma tia. Contou que arranjara um novo emprego e que ia trazer Conceição para morar com ela em São Paulo. "Como que uma pessoa dessa vai se suicidar?"
Depois desse telefonema, Neide não mais apareceu. A família voltou a ter notícias dela no dia 8 de janeiro de 1976, por meio de um telefonema de uma pessoa que não se identificou. Dizia que Neide estava à beira da morte, no hospital.
A família veio para São Paulo e encontrou Neide morta, em um caixão que estava lacrado. Apenas Manoel Miranda, seu cunhado, pôde vê-la por um vidro do caixão. Mas ele não notou sinais de queimaduras no corpo.
Tanto no velório como no enterro, no cemitério de Vila Formosa, os familiares foram acompanhados o tempo todo por policiais. Intimidada, não divulgou o caso.
Neide foi presa pela primeira vez em fevereiro de 75, após a prisão e morte de Hiran Pereira de Lima, com quem dividia uma casa em São Paulo. Depois de passar pelo DOI-Codi de São Paulo e o Dops do Rio, voltou à casa da família.
Contou que levara choques elétricos e que os militares enfiaram agulhas sob suas unhas. Abalada emocionalmente, foi internada em um hospital do Rio.
Ardigan Ferreira, genro de Hiran, lembra das atividades políticas de Neide. Por ser apenas militante de base do Partido Comunista do Brasil, o partido não ficou sabendo de sua morte.
Dina Lida Kinoshita, que pertencia à direção do PCB, diz que muitos casos de morte não chegavam ao conhecimento da direção do partido. É que esses mortos estavam ligados a outros militantes, que também já tinham morrido.

Texto Anterior: CRONOLOGIA DA MORTE
Próximo Texto: Delegado acha história "estranha"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.