São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Perito acredita que houve ação planejada

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O perito Osvaldo Negrini Neto, autor do laudo sobre o local do massacre da Casa de Detenção, revelou, na última quinta-feira, acreditar que alguns policiais militares que invadiram o pavilhão 9 tinham informações prévias de onde estavam os líderes da rebelião e os eliminaram nas celas.
"Houve celas onde foram encontrados vestígios de 50 disparos de armas de fogo e em outras, dois ou três disparos. Por exemplo, na cela 377 (no terceiro pavimento) morreram seus dez ocupantes. Na cela defronte, a 352, morreram dois presos", afirmou o perito.
"Isso indica, no campo subjetivo, que os PMs detinham informações de onde estariam os líderes."
Negrini contou que a PM, em um primeiro momento, dificultou sua entrada na Casa de Detenção. "Na diretoria da Detenção, o pessoal (oficiais e funcionários do presídio) estava reunido muito à vontade. Discutiam o que ia acontecer."
Negrini disse que, quando conseguiu "driblar" a PM e entrar no pavilhão 9, um oficial se aproximou dele e disse: "Doutor, o senhor não vai gostar do que vai ver". No térreo, o perito registrou barricadas, focos de incêndio no chão e objetos queimados.
"Nesse pavimento, eu falei para o meu fotógrafo que tudo aquilo era importante registrar, mas, pelo visto, o importante mesmo estava no andar de cima. Apontei a escada para ele, que pôde observar sangue escorrendo, como se fosse uma cascata", disse o perito.
"Quando chegamos, numa sala de uns uns 30 m2, havia 90 corpos empilhados. Não tinha onde pôr o pé. Por questão de respeito, o perito não pisa em cadáver, mas estava difícil."
Negrini disse que a remoção dos corpos prejudicou a perícia, mas não impossibilitou a sua realização. "Comprovamos rajadas de metralhadora a cerca de 50 centímetros do chão, o que indica que presos foram mortos ajoelhados."
Segundo ele, também não foi comprovada nenhuma reação com arma de fogo por parte dos presos. "Todas as marcas de tiros eram em uma direção. Não havia marcas contrárias, o que confirma que não houve tiros contra PMs."
Negrini disse que os presos jogaram pela janela os estiletes que portavam, antes de a PM entrar no pavilhão.
Os mortos foram removidos em caminhões de presos, e não em veículos do IML, para não chamar a atenção da imprensa.
Para o perito, a divulgação do laudo incriminando os PMs refletiu na mudança de comportamento da corporação. "Em setembro de 92, o Instituto de Criminalística atendeu a 187 casos de resistência seguida de morte (quando civis são mortos por PMs em supostos confrontos). Em novembro de 92 (mês da divulgação do laudo), houve apenas 16 casos. Daí por diante se manteve a média de 20 casos por mês."

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