São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Famílias ainda não receberam dinheiro

Direito a ação indenizatória prescreve na 5ª

ROGÉRIO SIMÕES; ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Treze famílias de presos mortos na operação da PM esperam receber o dinheiro de indenizações conseguidas na Justiça para as quais não cabe mais recurso possível ao Estado.
Mas a entrega do dinheiro ainda deve demorar. Os primeiros ressarcimentos aos parentes deverão ocorrer somente em 1998.
Os que pensam em pedir indenização pela morte de algum detento têm apenas até quinta-feira para formalizar uma ação. Passados cinco anos do episódio, estará prescrito o direito à indenização.
A maioria das ações foram encaminhadas pela PAJ (Procuradoria de Assistência Judiciária), que se ofereceu às famílias interessadas em processar o Estado logo depois da ação da PM.
Segundo a procuradora Cláudia Simardi, 29, a PAJ encaminhou a sua 59ª ação indenizatória na última semana.
Ao todo, segundo o último levantamento da Procuradoria Judicial -responsável por defender o Estado das ações-, houve 76 ações (algumas repetidas).
Uma das primeiras famílias a receber o dinheiro deverá ser a do preso Nivaldo de Jesus Santos.
Os filhos de Santos, Douglas, 14, e Danilo, 12, conseguiram indenização de 200 salários-mínimos e pensão no valor de um terço do salário-mínimo.
"Metade desse dinheiro eu vou pôr na poupança aberta para os meninos. O mais velho já está querendo fazer um curso de computação", disse a avó dos garotos, Olinda Maria de Jesus Ferreira, 61.
Olinda contou que viu seu filho no sábado anterior ao massacre, dia em que ele completou 29 anos. "Ele estava contente porque seu advogado disse que ele sairia da Detenção em menos de seis meses", afirmou a mãe do detento.
Ela disse que soube, por meio de um colega de cela de seu filho, que Santos teria sido morto dormindo.
Segunda ela, o colega de cela de seu filho disse que sobreviveu porque se escondeu embaixo de dois corpos.
"Acho que não vai acontecer nada com esses PMs assassinos. A nossa Justiça é muito branda. Todo mundo já esqueceu esse caso, menos as famílias das vítimas", afirmou Olinda.
Segundo ela, o seu filho foi preso apenas uma vez e "injustamente". "Ele foi acusado de ter facilitado um roubo na lanchonete em que trabalhava como balconista, em Botucatu (interior de São Paulo)."
Olinda disse que, em seu último contato com o filho preso, ele havia dito que o clima na Casa de Detenção não estava tenso.
Olinda sustenta os dois filhos de seu filho em uma casa modesta no bairro de Parada de Taipas (zona noroeste de São Paulo). Os dois garotos estudam.
Zirbo Gasparino, 58, e Florinda Rosa de Lima Gasparino, 55, também conseguiram na Justiça a indenização. O filho do casal, Ronaldo Aparecido Gasparino foi morto com sete tiros, no primeiro andar do pavilhão 9, aos 26 anos. Cumpria pena por roubo.
"Foi uma injustiça aquilo lá, ele estava preso, estava pagando pelo que fez", diz Florinda Gasparino.
Ela e seu marido conseguiram uma indenização de cem salários mínimos, por danos morais. Florinda diz que não acreditava que fosse conseguir o dinheiro. "Eu achava impossível a gente ganhar alguma coisa."
Segundo ela, o dinheiro será usado na educação de Carlos Henrique, 5, filho de Ronaldo. O menino nasceu um mês antes da morte do pai, logo que este havia sido transferido da delegacia de Taboão da Serra para a Detenção.
Florinda diz que sempre leva o neto ao túmulo de Ronaldo. "Agora que ele vai começar a sentir falta do pai."
(RS e AL)

Texto Anterior: Fleury decidiu pela invasão, diz defesa
Próximo Texto: "Aqui, a gente está arriscado a tudo"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.