São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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"Aqui, a gente está arriscado a tudo"

ROGÉRIO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Viva o choque! Viva o choque!" Segundo o preso Aderbal Sousa Bastos, 37, esse era o grito de guerra que os policiais militares obrigavam os detentos a repetir ao final da operação no pavilhão 9.
Bastos, que na época ocupava uma cela no quarto andar do pavilhão, hoje não enxerga. Diz que a cegueira surgiu depois da invasão e acredita que ela foi consequência da fumaça e do fogo que havia.
Ele diz que nunca houve uma rebelião para tentar fugir ou tomar o poder no pavilhão, apenas uma briga entre dois presos que depois se transformou num grande confronto entre quadrilhas rivais.
Mas o confronto teria se tornado uma operação de defesa contra a Polícia Militar logo que os presos souberam que a tropa de choque estava do lado de fora.
"O pessoal jogou óleo no chão para eles (os PMs) não subirem e fez barricadas", diz.
"Mas ninguém estava esperando eles subirem atirando", afirma. Segundo ele, a única chance de sair vivo era permanecendo dentro da cela, apesar de muitos internos terem sido mortos nas suas camas.
"Quem ficou na galeria (corredor) morreu", diz. "Eu nunca vi covardia como essa. Tinha jeito de conversar."
Bastos afirma que decidiu ficar dentro da sua cela com um outro colega esperando a chegada dos policiais.
"Quando um deles chegou, eu pedi: 'não, pelo amor de Deus"', afirma. Então, segundo ele, foi levado para fora e, sem roupa, espancado por policiais.
Hoje, Aderbal Bastos é interno do pavilhão 4 da Casa de Detenção. Tornou-se religioso e diz que a possibilidade de a tropa de choque voltar a invadir o seu presídio sempre existe. "A gente está nesse lugar, está arriscado a tudo."
(RS)

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