São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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Coronel diz que hoje poderia não invadir

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-comandante da Rota (tropa de elite da PM) coronel Antônio Chiari admite que talvez não entrasse novamente em um presídio para conter uma rebelião.
A Rota foi responsabilizada pela morte de 88 presos (79,2% do total) na Casa de Detenção.
"Para evitar um problema na imagem da minha instituição, eu talvez não entrasse", disse Chiari, que participou apenas da segunda parte da ação de 92, quando os 111 presos já estariam mortos.
"Os males causados por esse episódio para a PM foram muito grandes", afirmou o coronel, que até sexta ocupava o cargo de chefe do Estado-Maior do Comando de Policiamento do Interior.
Na sua administração na Rota, as mortes de civis em supostos confrontos com PMs dobraram.
"Até hoje sofro restrições, apesar de não ter participado da invasão. As pessoas não confiam em mim por estar envolvido nesse caso. Sob esse aspecto, a gente não deveria ter entrado."
"No entanto, eu poderia ser processado por omissão, caso acontecesse lá alguma coisa que pudesse responsabilizar alguém por não ter entrado", disse Chiari.
O deputado Ubiratan Guimarães, comandante da operação de 2 de outubro de 92, sente-se injustiçado. "Nós, que cumprimos o dever, que agimos dentro da lei, fomos sumariamente afastados."
"No dia seguinte foi dada ordem me proibindo de falar, de ser entrevistado, de dar minha opinião."
Guimarães nega que tenha havido qualquer excesso da tropa que comandou. "O que houve é que os caras (presos) estavam tomados", diz. "Quem se entregou está lá vivo; quem nos enfrentou..., a gente teve de se defender."
Reforços
Antônio Chiari está sendo processado por um caso de lesão grave em um preso, na fase final da operação. Na semana passada, ele não aceitou a oferta de suspensão condicional de seu processo, prevista pela lei 9.099/95. Dessa forma, poderá ir a júri.
Ele estava no quartel da Rota no momento da invasão do presídio. Disse que decidiu ir à Casa de Detenção depois que ouviu pelo rádio que o coronel Ubiratan Guimarães estava convocando reforços.
Segundo Chiari, quando subiu ao primeiro andar, a rebelião já havia sido controlada. "Reuni os PMs que estavam ali e comecei, de cela em cela, a tirar os presos."
Ele afirma que chegou a ver "umas seis ou sete pessoas mortas no corredor".
O ex-comandante da Rota não descarta a hipótese de ter havido excesso por parte de policiais. "A viabilidade (de excesso) existe. Se eu disser que não, não tenho lógica de pensamento." Chiari foi promovido a coronel, por merecimento, em 29 de dezembro de 94.
O major Wanderley Mascarenhas, então capitão do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), diz ter a "consciência tranquila".
"Os homens que eu comandava não praticaram nenhum excesso. Nós agimos dentro daquilo que tínhamos para fazer."
Para Mascarenhas, o grande erro da operação foi não ter sido estabelecida uma liderança bem definida. "Em uma operação é preciso ter certeza de quem realmente é o encarregado."
O tenente-coronel Luiz Nakaharada, o coronel Wilton Brandão Parreira Filho, hoje na reserva, e o major Valter Alves Mendonça, que também lideraram a operação, não quiseram dar entrevistas sobre o episódio.
(AL e RS)

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