São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997
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EUA discutem congelamento de tarifas

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

As duas maiores entidades de defesa dos direitos do consumidor dos EUA iniciaram na semana passada campanha para que o governo congele por um ano as tarifas cobradas pelos distribuidores de televisão por cabo no país.
Segundo elas, a medida representaria para os 64,8 milhões de assinantes economia da ordem de US$ 1 bilhão.
A conta mensal média dos assinantes de cabo passou de US$ 10 em 1986 para os atuais US$ 25,87 (no Brasil, a assinatura mensal custa em média R$ 50 -cerca de US$ 46). Em 1996, o aumento médio foi 5,6% superior à inflação e, em 1995, 4,3% acima dela.
A indústria responde que esses aumentos foram atípicos e resultaram de investimentos de US$ 5,1 bilhões feitos para manter a TV por cabo competitiva em relação às opções de satélite e das companhias telefônicas.
O presidente da Associação Nacional de Televisão por Cabo, Decker Anstrom, também argumenta que nos últimos dois anos as operadoras passaram a oferecer número maior de canais e que, se for feita uma divisão do preço pelo número de canais disponíveis, se verificará que os aumentos não foram tão grandes como parecem.
A televisão por cabo foi o único ramo da indústria de telecomunicações sobre o qual se manteve controle significativo do Estado após a promulgação em 1996 da nova Lei de Telecomunicações. Os operadores não podem elevar tarifas sem autorização do governo e são obrigados a se abrir para a competição. Mas, de acordo com as reclamações das entidades de defesa do consumidor, a administração Clinton tem deixado de cumprir o seu papel de regulador.
Além do congelamento, as entidades também reivindicam que sejam impostos limites ao número de assinantes que um só operador pode atingir em todo o país, que se restrinja o número de canais transmitidos por um sistema e que pertençam, mesmo em parte, ao operador daquele sistema e que aumentem os estímulos para a competição contra os operadores de cabo.
Os empresários do setor de TV por cabo têm sofrido diversas derrotas legais nos últimos meses nos EUA. Em abril, por cinco votos a quatro, a Suprema Corte decidiu que os sistemas de cabo devem continuar transmitindo obrigatoriamente os sinais de todas as estações locais de TV abertas a todos os seus assinantes. Os operadores argumentavam que essa exigência constituía intrusão estatal na autonomia editorial dos sistemas e deveria ser impedida com base na Primeira Emenda da Constituição, que garante a liberdade de expressão no país. Mas a maioria dos juízes da Corte resolveu que a exigência garante a competitividade no mercado de televisão no país.
Não se sabe como o assunto será resolvido quando, daqui a dois anos, a News Corporation, de Rupert Murdoch, puser no ar um sistema nacional de televisão por satélite. Pelo espírito da lei, ela deveria ser obrigada a transmitir os sinais de todas as 1.544 estações de TV do país, o que será impossível, já que o satélite só disporá de 500 canais. Mas a Corte não decidiu ainda o que fazer nesse caso.
Apesar de reclamarem da competição, os operadores de cabo continuam a exercer virtual monopólio da distribuição de sinais de TV na maioria absoluta das cidades dos EUA. As empresas telefônicas, com a única grande exceção da Ameritech, na região Meio-Oeste do país (Ohio, Illinois e Michigan), ainda estão avaliando se devem entrar nesse mercado porque as perspectivas de lucro são remotas. Mesmo a Ameritech, que diz estar se dando melhor do que esperava, com cerca de um terço do mercado em algumas cidades, só antecipa fazer dinheiro em 2004. O sistema de antenas parabólicas, embora tenha dobrado de tamanho em um ano, ainda tem apenas 4 milhões de assinantes.

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