São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Inflação de ativos é o que segura Wall Street

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O aumento de "L" está chegando a níveis preocupantes nos Estados Unidos. Há quem veja nesse indicador mais uma evidência de que a bolha especulativa em Wall Street é insustentável.
Poucos leitores terão, a essa altura, noção do que significa "L". Mesmo entre os economistas, o conceito será provavelmente familiar apenas àqueles que se filiam à vertente "monetarista". Os monetaristas sempre deram importância à quantidade de dinheiro em circulação na economia. Os "agregados monetários" são definidos pela letra "M", seguida de um número (M1, M2, M3, incluindo depósitos à vista, aplicações de curto prazo, poupança etc.).
O conceito de "L" inclui, na medida de dinheiro, tudo o que está no conceito de "M3" (moeda em circulação, depósitos à vista, contas de poupança, fundos de investimento, depósitos a prazo) mais eurodólares depositados por cidadãos residentes nos EUA, títulos ("commercial papers") e títulos do Tesouro dos EUA. O "L" faz referência a "ativos líquidos".
Para o estrategista de investimentos globais do Dresdner Kleinwort Benson, Albert Edwards, os analistas deveriam dar mais atenção à evolução de "L". Ele está entre os pessimistas que há pelo menos um ano alertam para a iminência de uma forte correção na Bolsa de Nova York. A seu favor está o fato de ter sido um dos primeiros a alertar sobre a crise asiática, no início de 1995.
Edwards deu há duas semanas uma entrevista à "Barron's", publicação especializada em finanças e associada ao "Wall Street Journal". Além de reafirmar um pessimismo brutal com relação ao futuro da crise asiática, ele advertiu para uma expansão inaceitável dos ativos líquidos nos EUA.
Crise geral
A maioria dos economistas passou a repetir em coro, depois da crise asiática, que os problemas da região estavam associados à corrupção, a formas empresariais ultrapassadas, a excesso de Estado. Edwards, entretanto, coloca em pé de igualdade os fenômenos de bolha especulativa na Ásia, no México, Tóquio ou Nova York. Na raiz do problema está o endividamento exagerado das empresas.
Nos EUA as empresas estão "endividadas até o pescoço" e, segundo Edwards, também serão vítimas de uma crise de confiança.
Outro mito contra o qual reage o especialista britânico é o de que há "bons" investimentos, que justificariam o endividamento, como o feito em novas tecnologias. Toda dívida excessiva está sujeita a uma crise de confiança, em especial quando a economia cresce menos.
Mas o tiro de misericórdia está na medida ampla de liquidez,o "L", que nos últimos 12 meses teve uma alta real (ou seja, descontada a inflação) de 12,5% nos EUA. Isso significa que há excesso de liquidez, recursos que não são direcionados para a economia, mas apenas inflacionam o preço dos ativos (como as ações). Edwards observa que os empréstimos bancários dispararam nos EUA. Mas não para consumidores ou empresas, e sim para financiar a compra de ativos financeiros.
Ora, é a mesma anatomia das bolhas que vitimaram mexicanos, asiáticos e japoneses. Nos EUA, esse tipo de financiamento teve uma alta de inacreditáveis 50% no último ano. É "L" para monetarista algum botar defeito.

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