São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Fã adota monumento para Diana

ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Torcedores elegeram um novo lugar de culto em Paris quando estão longe dos estádios. É o Pont de l'Alma, onde morreu a princesa Diana, na madrugada de 31 de agosto do ano passado.
Nos intervalos de sua peregrinação de um jogo a outro, eles têm ido até ao ponto trágico venerar Lady Di. Outras centenas de turistas também visitam o local diariamente, para ali deixar flores, mensagens e tirar fotografias.
A veneração não é feita no lugar exato do acidente. Acontece diante de um monumento que nada diz respeito à princesa, situado acima do túnel onde seu carro se estraçalhou na noite do dia 31 de agosto do ano passado.
O monumento, chamado "Chama da Liberdade" (conforme informa a placa de sinalização), transformou-se, por força da devoção dos fãs, em "monumento a Diana".
Alguns dos fãs nem sequer suspeitam que ele foi instalado em 1987, dez anos antes da morte da princesa. E que, na verdade, está ali para homenagear os cem anos do "International Herald Tribune", um jornal em inglês editado na França, e de quebra a amizade franco-americana.
Estátua da Liberdade
Uma escultura dourada representa grotescamente as formas de uma chama. A placa no local explica: "Réplica exata da chama da Estátua da Liberdade". Mas mal se vê a placa. Por todo canto, há imagens de Diana recortadas de revistas e bilhetes em folhas de papel para a princesa, afixados pelos fãs.
Algumas flores cobrem o local. A murada ao lado do monumento, de onde se avista o túnel do acidente, tem mais de 20 m recobertos por recados manuscritos.
O torcedor brasileiro Wanderley Torrentes de Araújo, 31, vestido com a camisa da seleção, anota a sua mensagem para Diana no pedestal do monumento: "Amor e carinho, 12.6.98, Wanderley, Brasil, Rio de Janeiro".
É a sua primeira vez em Paris. Ele veio com um grupo para assistir os jogos. Enquanto espera para ver o Brasil enfrentar o segundo adversário, Araújo conhece os principais pontos turísticos da cidade. "Decidi vir aqui porque Diana representou muita coisa para o mundo", diz.
Seu amigo Laurindo Silva, 45, não pensa diferente: "Viemos homenagear Diana por sua personalidade, seu interesse em ajudar o próximo". Mauro Fernandes da Costa, 39, acrescenta: "Ela fez um importante trabalho social na África".
Nenhum deles desconhecia o verdadeiro local do acidente. "Sei que é lá embaixo, no túnel, mas prefiro lembrar dela aqui, como se estivesse viva", diz o irmão de Mauro, Luiz Antônio da Costa, 40.
Durante a visita, os três amigos se enfileiram diante do monumento e, segurando sacolas de uma loja em Paris, preparam-se para serem filmados em vídeo por Wanderley. No fundo, avista-se a Torre Eiffel. "Essa cidade é um espetáculo", diz Araújo.
O escocês Cameron Mackintosh, 23, não abandonou Paris depois da derrota de seu país, como fez boa parte de seus conterrâneos. Está ali, vestido com uma saia do tipo kilt avermelhada, observando o "monumento".
Ele diz: "Sei que não é dela, mas nem isso a Escócia tem, e olha que ela é muita amada por lá. Foi um símbolo para todos".
Cameron está em Paris pela primeira vez para torcer pela Escócia. "Foi um grande jogo, apesar da nossa derrota. Acho que o Brasil enfrenta a Itália na final."
Mas ele já não está tão interessado na Copa. Se preocupa mais com o passeio. "Foi neste túnel que ela morreu? Não, não vale a pena ir até lá. Ela tem a ver com amor, não com morte."

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