São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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A violência preocupa no campo e nas ruas

MARADONA

A essência do futebol está no drible, na jogada executada com arte e técnica, na busca obsessiva pelo gol. Por essas razões, considerei muito importante a decisão tomada pela Fifa e pelo co-presidente do Comitê Organizador da Copa, Michel Platini, de exigir que os árbitros sejam mais rigorosos na aplicação das regras para coibir o jogo violento, desleal. Muitas equipes realmente abusaram da violência na rodada inicial do torneio.
A melhoria na qualidade dos jogos, ajudada pela arbitragem, foi significativa a partir da rodada seguinte. Quem sai ganhando são os atacantes, os jogadores mais caçados em campo. Eu creio que, a partir de agora, será muito importante que haja uma padronização nos critérios usados pelos juízes. Em algumas partidas, eles são mais flexíveis. Em outras, não. Ronaldo, da seleção brasileira, por exemplo, sofreu algumas faltas nas quais o agressor não foi punido de forma adequada. Lances menos graves, em outros jogos, resultaram em expulsão. É essa diferença de interpretação que me preocupa. Durante as competições nacionais, seja na Argentina, no Brasil ou em outro grande centro de futebol, os jogadores e os árbitros não estão acostumados a esses critérios. Eles jogam e agem de uma forma. Quando chega o período de uma competição importante, como a Copa do Mundo, a cobrança aumenta. A Fifa deveria se preocupar também em exigir o cumprimento das regras em todos os torneios.
Enquanto o futebol parece estar tomando um bom rumo dentro de campo, é uma pena que aconteça violência entre as torcidas fora dos estádios. Foi muito bonito o exemplo dado pelos jogadores de EUA e Irã no jogo de domingo. Os distúrbios causados por hooligans, skinheads são lamentáveis. É uma coisa que pode manchar a Copa, quando o esperado por todos, imprensa, mídia, jogadores e, aqueles que mais importam, os torcedores, é um espetáculo bonito. Na Argentina também acontece isso, com os barrabravas (torcedores violentos). Felizmente, eles ainda não causaram problemas no Mundial da França. Talvez um dos motivos para esses incidentes seja o fato de os estádios serem pequenos, com 40 ou 60 mil lugares. Há muito espaço reservado para mídia e para as autoridades. Acabou faltando para os espectadores. Resta àqueles que apreciam o futebol esperar a boa ação das autoridades francesas.
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O público parece estar estranhando o intervalo entre as partidas que cada equipe cumpre na Copa. Não vejo muitos problemas por causa disso.
Para os torcedores essa expectativa é ruim, causa ansiedade, mas há um lado positivo. Aqueles que estão num país belíssimo como a França, podem aproveitar o intervalo para o turismo.
Para os jogadores, não há quase problemas. Eles podem se recuperar de forma mais adequada das partidas, tratar contusões.
A ansiedade é um mal menor. Eles estão acostumados a enfrentar competições.
O aumento do número de participantes, de 24 para 32, está tendo influência no nível técnico das partidas, porque nem todas as seleções, como mostraram os jogos desta primeira fase, estão em condição de disputar uma Copa. Para o calendário, a influência foi muito pequena, porque este Mundial tem apenas dois dias a mais em relação à edição anterior, nos Estados Unidos.

Diego Armando Maradona, 37, ex-jogador de futebol, foi campeão do mundo com a Argentina, em 1986

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