São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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Brasil fracassa com Dunga 'light'

ALEXANDRE GIMENEZ; JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO; MARCELO DAMATO; MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADOS ESPECIAIS A MARSELHA

Capitão é econômico em críticas aos companheiros na partida em que a seleção perdeu sua invencibilidade no Mundial
Dunga evitou dar broncas e, quando fez, procurou falar com calma e sem agressividade

A seleção brasileira mostrou ontem que ainda é "dependente" dos gritos do volante Dunga, o capitão da equipe.
Na derrota por 2 a 1 para a Noruega, em Marselha, a primeira do Brasil na Copa da França, ele tentou adotar um estilo "light", para apagar a impressão que deixou no jogo contra Marrocos.
Após uma discussão com Bebeto, o volante deu uma leve cabeçada no rosto do atacante.
Depois que a seleção marcou seu único gol, com Bebeto, aos 33min do segundo tempo, o time passou a jogar sem muita concentração, relaxando na marcação e permitindo que os noruegueses armassem suas jogadas ofensivas sem assédio dos brasileiros.
Até o gol de empate dos noruegueses, aos 38min do segundo tempo, Dunga foi econômico nas broncas que deu nos outros jogadores da equipe. Procurou falar com calma e sem agressividade. O volante jogou mal, errando muitos passes fáceis.
O gol de Tore Andre Flo despertou a "ira" de Dunga. Ele caminhou até o meio-campo e fez várias reclamações ao atacante Ronaldinho e ao meia Rivaldo.
"Vocês queriam que eu jogasse calado. Hoje (ontem), eu joguei calado", disse o jogador.
Nas poucas entrevistas que deu no corredor que liga os vestiários ao estacionamento dos ônibus das delegações, Dunga foi ríspido em suas declarações, tentando alcançar o ônibus rapidamente.
Dunga mostrou uma certa descontração após o gol de Bebeto, mas não de uma maneira muito esportiva. Na comemoração, olhou para o banco norueguês, colocou o dedo indicador no meio da sua boca (gesto usual quando alguém pede silêncio) e gritou.
A atitude foi confirmada por Egil Olsen, técnico da seleção da Noruega, nas entrevistas após o jogo. "Se eles disseram isso, estão mentindo", rebateu Dunga.
O meia Leonardo, que separou Dunga de Bebeto na discussão durante o jogo contra Marrocos, disse que o volante mostrou, mesmo que timidamente, o estilo que o consagrou: gritos e broncas.
"Vocês é que não viram", afirmou Leonardo. "O Dunga foi o mesmo de sempre. Ele é muito importante para o time, orientando os jogadores e transmitindo as instruções do Zagallo."
O técnico Mario Jorge Zagallo não quis comentar as razões da falta de concentração dos jogadores brasileiros após o gol de Bebeto. O treinador afirmou que essa foi a principal razão da derrota da seleção nos momentos finais do jogo contra a Noruega.
"Vocês precisam perguntar isso para eles", declarou.
Mas os atletas também não souberam responder precisamente a essa pergunta. A maioria preferiu afirmar que esse tipo de coisa não aconteceria se a classificação da equipe estivesse em jogo.
"Seria diferente se dependêssemos desse resultado. Mas acho que o time não foi mal. Até o gol de empate, dominamos a partida", disse o meia Rivaldo.
O jogador não repetiu contra a Noruega as mesmas performances que apresentou nos últimos jogos da seleção. Ontem, Rivaldo jogou pelo lado direito.
"Fui bem. Dei bons passes para o Ronaldinho e para o Bebeto. E chutei para o gol", disse.
O atacante Ronaldinho afirmou que a equipe precisa manter a tranquilidade. "A seleção precisa jogar tranquila contra o Chile. A derrota serviu como lição."

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